Introdução
A preocupação com os problemas ambientais
causados pelo uso irracional da natureza e com o futuro da vida no/do planeta
fez com que surgisse a necessidade de desenvolver uma consciência crítica das
ações do homem no meio, como também a necessidade de preservar o meio ambiente.
A educação tem fundamental importância na formação intelectual e no
desenvolvimento de práticas sociais que preservem os recursos naturais. A
escola é o espaço de diálogo e de disseminação de conhecimento que tem como
objetivo promover a conscientização ecológica.
Com o propósito de refletir sobre a
problemática ambiental e o papel da Educação Ambiental nas escolas e como ações
escolares e domésticas do cotidiano dos alunos podem contribuir para a formação
de uma sociedade consciente, o presente trabalho foi desenvolvido na Escola
Estadual Tobias Barreto, localizada no município de Tobias Barreto – SE, com os
alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) do ensino médio.
Para alcançar os objetivos propostos foram
realizadas leituras bibliográficas, discussões em grupos que provocaram uma
reflexão crítica nos alunos sobre suas ações individuais e coletivas, e como
essas contribuem para a degradação ambiental. Como também, refletir sobre o
processo de produção capitalista e as consequências do consumo exacerbado que
põe em risco a existência da humanidade.
Diante da emergência de mudar as ações e
valores da comunidade escolar, como proposta metodológica foi desenvolvido o Projeto
Escola Verde a partir da realização de oficinas pedagógicas para promover uma
conscientização coletiva e a prática da reutilização de resíduos sólidos. A
Educação Ambiental no ensino da EJA do ensino médio se desenvolveu a partir da
prática pedagógica associada a vivência dos alunos para se criar uma
mentalidade crítica do uso e da conservação do planeta que assegure o bem-estar
e a existência humana.
2.
Desenvolvimento
A questão ambiental tem se intensificado
nos discursos e nas pesquisas acadêmicas diante do avanço dos problemas
ambientais gerados pelo uso desordenado da natureza pelo homem, sem se
preocupar com a vida no/do planeta. Com o avanço tecnológico e o aumento
exacerbado do consumo, o homem degrada os recursos naturais e produz resíduos que
alteram e destroem o planeta para gerar riqueza. Diante dessa preocupação com
os problemas gerados pela ação predatória do homem sobre o meio ambiente,
surgiu a necessidade de se formar uma nova consciência quanto ao uso dos
recursos naturais e de se criar hábitos de consumo consciente que preservem a
natureza para garantir as necessidades das gerações futuras.
A conscientização ecológica é uma ação que
está ligada a educação, pois é através dela que o homem encontra formas de se
relacionar com a natureza e para se viver em sociedade, então é desse consenso
quanto a necessidade de mudanças de mentalidade para preservar a natureza que
surgiu as ações educativas nas instituições que levou a institucionalização da
Educação Ambiental no Brasil através da Lei n° 9.795,
de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação
Ambiental. Em seu Art. 1º, a Lei assim define Educação Ambiental:
Processos
por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação
do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida
e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).
E ainda define que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações (Brasil, 1999). Nesse sentido, é através do processo
educativo, formal ou não, que o homem desenvolve a capacidade de se apropriar
do espaço em seu próprio benefício, e a Educação Ambiental tem como objetivo
trazer a reflexão sobre o meio ambiente, a fim de contribuir com a preservação
e utilização sustentável dos recursos naturais.
Conforme o Ministério do Meio Ambiente,
A
Educação Ambiental tem como objetivo contribuir para a conservação da
biodiversidade, para a auto realização individual e comunitária e para a
autogestão política e econômica, através de processos educativos que promovam a
melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida (MMA, 2001, p. 18).
A EA associada a educação vem
contribuir com a conscientização da necessidade de se preservar o meio ambiente
desde as séries iniciais, visando a construção de valores e práticas
sustentáveis de utilização dos recursos naturais. É o chamado da sociedade em
geral para a formação de uma nova sociedade, preocupada com o uso racional da
natureza, com a necessidade de se repensar a relação do homem com a natureza,
que historicamente se deu de forma predatória com o propósito de produzir
riqueza em detrimento da miséria do planeta. Nesse sentido, a educação
ambiental é um instrumento de formação e conscientização do uso sustentável da
natureza em todos os níveis do processo de aprendizagem na escola e fora dela.
Segundo Drew (2005, p. 89),
A
Educação Ambiental não deve ser entendida como um tipo especial de educação.
Trata-se de um processo longo e contínuo de aprendizagem de uma filosofia de
trabalho participativo em que todos: família, escola e comunidade, devem estar
envolvidas. O processo de aprendizagem de que trata a Educação Ambiental, não
pode ficar restrito exclusivamente à transmissão de conhecimentos, à herança
cultural do povo às gerações mais novas ou a simples preocupação do educador
inserindo em seu contexto social. Deve ser um processo de aprendizagem centrado
no aluno, gradativo, continuo e respeitado de sua cultura e de sua comunidade (DREW,
2005, p. 89),
Segundo Moreira (2002) a
principal função da Educação Ambiental é a formação de cidadão conscientes,
preparados para a tomada de decisões e atuantes na realidade socioambiental,
comprometidos com a vida, o bem-estar de cada sujeito e da sociedade, tanto em
nível global como local. Assim, o ensino sobre o meio ambiente deve contribuir
principalmente para o exercício da cidadania, estimulando a ação transformadora
além de buscar aprofundar os conhecimentos sobre as questões ambientais e de
estimular a mudança de comportamento e a construção de novos valores éticos
menos antropocêntricos (BERNA, 2004, p. 18).
A Educação Ambiental busca
contribuir para a formação de cidadão conscientes de sua responsabilidade com a
preservação do planeta e comprometidos com o bem estar das gerações do presente
e do futuro. Conforme Loureiro (2012) a educação é feita por
atores, todos sendo sujeitos de seus processos educacionais, com suas
identidades e individualidades respeitadas, podendo deste modo enxergar e
construir seu próprio conhecimento baseado na sua própria realidade.
A educação associada a EA
pactua com a formação de cidadão que possam contribuir para o equilíbrio entre
homem e natureza, e deve ser desenvolvida em todos os lugares e por todos, mas
a escola tem um papel primordial.
Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 no
artigo 225, inciso do VI parágrafo, deve se promover a Educação Ambiental em
todos os níveis de ensino e conscientização publica para a preservação do meio
ambiente. E ainda, afirma que:
Todos
tem direito ao meio ambiente ecologicamente correto, bem se uso comum do povo e
essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a
coletividade o dever de defender e preservá-lo para os presente e futuras
gerações (BRASIL, 1988)
A Educação ambiental deve
levar o educador e o educando desenvolver ações e reflexões para compreender a
problemática ambiental e criar ações que possam buscar soluções para possíveis
problemas. Conforme, Vilmar Berna (2004, p. 30) o Educador ambiental deve
procurar colocar os alunos em situações que sejam formadoras, como por exemplo,
diante de uma agressão ambiental ou conservação ambiental, apresentando os
meios de compreensão do meio ambiente está em toda a nossa volta. Segundo o
autor a educação não tem significado se estiver dissociada da realidade, mais
importante que dominar informações sobre um rio ou ecossistema da região é usar
o ambiente local como motivador.
Dessa forma, a educação é
fundamental para a promoção do desenvolvimento sustentável, abordando questões
ambientais e de desenvolvimento da sociedade capitalista, bem como estimulando
a mudança de hábitos que possibilite uma melhor qualidade de vida. A Educação
Ambiental compreende um conhecimento interdisciplinar teórico/prático/teórico
cujo objetivo é a reflexão sobre o meio ambiente, a fim de criar uma
consciência de preservação e utilização sustentável do espaço natural.
A problemática ambiental está cada vez
mais presente nos discursos acadêmicos e na mídia, há uma alerta constante que
põe em risco a vida do/no planeta. A educação tem papel fundamental nesse
processo de conscientização da população para o uso sustentável da natureza. O
desafio que se coloca é trabalhar a Educação Ambiental em turmas de Jovens e
Adultos do ensino médio, de forma contextualizada e participativa, cujo
objetivo é criar uma consciência ecológica a partir da reflexão coletiva e
individual da contribuição desses sujeitos com o planeta.
Cabe
ao professor estimular a reflexão acerca de valores e atitudes cotidianas dos
educandos para que eles se reconheçam como sujeitos críticos e atuantes.
Segundo Loureiro (2012) o educador deve adotar procedimentos da educação
ambiental que levem os educadores e educandos a conhecer e reconhecer a
realidade, e assim refletir e criar ações que articuladas aos diversos saberes
possam buscar possíveis soluções para os problemas, ou seja, o educando deve
compreender o ambiente como um todo, em sua complexidade e totalidade; e
assegurar e enriquecer as ações coletivas e organizadas.
Segundo
o autor a Educação Ambiental tem como categorias chaves: conscientizar,
emancipar e exercer a cidadania, e a conscientização é vista como um
comprometimento com a transformação de uma sociedade injusta e desigual. Dentro
desse contexto, buscou-se primeiro a reflexão de todo o processo de produção
capitalista que tem como objetivo a expropriação dos recursos naturais para
produzir riqueza. Dessa forma, compreender a produção do espaço a partir dos
paradigmas: lucro x natureza, em que se evidencia com o consumismo exacerbado
que gera um acúmulo de resíduos que poluem e degradam o meio ambiente.
Essa
reflexão levou os alunos a perceberem que as suas ações no coletivo contribuem
e alimentam esse sistema econômico que é a causa dos inúmeros problemas ambientais,
se criou uma consciência ecológica que provocou uma inquietação quanto as suas
ações cotidianas e ao mesmo tempo uma angustia diante da não superação desse
sistema que degrada o meio ambiente e coloca em perigo a existência humana.
Diante desse conflito chegou-se a conclusão que era preciso disseminar esses
conhecimentos e possibilitar a conscientização coletiva da escola, pois só será
possível uma outra sociedade se as mudanças forem coletivas, se provocar
processos de mudanças sociais e culturais que visem o uso sustentável do
planeta.
Se
há uma urgência em mudar os valores e padrões de consumo e de uso da natureza,
tem de começar agora, a partir da sala de aula, tem de se formar indivíduos
capazes de reconhecer os problemas ambientais e desenvolver a capacidade de
agir sobre eles em suas comunidades. Então surgiu o Projeto Escola Verde que
tem como proposta desenvolver ações na Escola Estadual Tobias Barreto e na
comunidade para minimizar os impactos ambientais. No primeiro momento foi
realizada visitas empíricas e o levantamento dos principais resíduos sólidos
produzidos no município, em seguida os alunos elaboram oficinas de reciclagem
desses resíduos. No momento seguinte eles apresentaram para a comunidade
escolar o resultado das atividades e apontaram as principais problemáticas
ambientais do município.
O
município de Tobias Barreto apresenta uma dinâmica comercial que atende vários
municípios do estado de Sergipe e da Bahia, com destaque para a produção de
artesanatos, tecidos e confecções. São várias fabricas de artigos de cama, mesa
e banho que utilizam como matéria prima o tecido, e ao longo dos anos essa
atividade gerou uma problemática ambiental, pois as sobras dos tecidos eram
despejadas em terrenos baldios ou as margens de rios, de acordo com a pesquisa
ainda permanece essa prática em algumas unidades. Diante da problemática os
alunos desenvolveram a oficina “O que fazer com o retalho?”, na qual eles
produziram vários objetos com as sobras de tecidos ou reaproveitam tecidos
velhos para confeccionar objetos de decoração.
As
vias de acesso a cidade são em sua maioria são precárias, por conta dos buracos
e da má qualidade do asfalto, que tem como consequência uma rotatividade
constante de pneus nos veículos, gerando um acúmulo significativo desse
material em terrenos baldios e nas oficinas de carros. Nesse contexto, um
segundo grupo propôs a reutilização dos pneus para arborizar o ambiente
escolar, como também de latas de alumínio e de sobras madeiras.
Ao
analisar os resíduos sólidos produzidos pela população, foi identificado uma
quantidade muito grande de garrafas pets, de latas, de caixas de papelão, que é
um material reutilizável pelas próprias indústrias, e uma boa parte é coletado
pelos catadores de lixo que sobrevivem dessa atividade. Nesse sentido, o grupo
propôs uma oficina pedagógica na qual desenvolveu vários jogos lúdicos que
contribuem para o processo de ensino e aprendizagem nas séries iniciais.
Um
outro material encontrado em grande quantidade foram caixotes, devido a
dinâmica da feira livre e do intenso comércio, há o fluxo intenso de verduras e
legumes. A madeira é um material que demora para se decompor no ambiente e pode
ser reutilizado de maneira sustentável na produção de móveis e objetos de
decoração. A “Oficina Casa Sustentável” trouxe como proposta utilização do
caixote na decoração de festas e para a produção de móveis, como também a
reutilização de garrafas pets, de papel, de embalagens de vidros e caixas de
papel para produzir objetos de decoração.
As
oficinas foram planejadas e desenvolvidas pelos alunos que ao refletirem sobre
a problemática ambiental relacionaram com a sua vivência e sentiram a
necessidade de disseminar o conhecimento para a comunidade escolar com o
propósito de provocar mudanças de atitudes e de pensamento sobre as questões
ambientais.
4.
Considerações finais
Os problemas ambientais são resultantes do
uso irracional da natureza pelo homem que coloca em risco o futuro da
existência humana, assim, é emergente a necessidade conscientizar a humanidade
quanto ao uso sustentável do planeta e desenvolver novas atitudes e valores que
contribuam para a preservação da vida. Dentro desse contexto, a educação assume
um papel primordial, como instrumento de formação intelectual e de cidadãos
críticos capazes de atuar e interferir nas relações sociais estabelecidas entre
o homem e a natureza.
Dessa forma, as discussões e as reflexões
realizadas em sala de aula, como também as práticas desenvolvidas pelos alunos
contribuíram para o surgimento de novas atitudes e valores ao se utilizar dos
recursos naturais, como também de novas práticas de consumo. Podemos afirmar
que a Educação Ambiental são metodologias e práticas educativas que podem ser
adotadas por qualquer pessoa e nos mais distintos ambientes, e a aprendizagem será
mais efetiva se a atividade estiver relacionada às situações vividas pelos
alunos.
Referências
Bibliográficas
BERNA, Vilmar. Como fazer educação ambiental. 2. Ed. São Paulo: Paulus, 2004.
BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de
1999. Política acional de Educação Ambiental (PNEA). Dia rio Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília, 2 de abril de 1999. Seção. p. 1- 3.
DREW, David. Processos interativos homem meio-ambiente. 6ª ed. Rio de Janeiro:
Bertrand, 2005.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetória
e fundamentos da educação ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez Editora,
2012. 168 p.
MMA, Ministério do Meio Ambiente. Revista Eletrônica em Turismo.
Disponível em: http: www.mma.gov.br. Acessado em 29, Abril 2019.
Prezados autores, parabéns pelo relato!
ResponderExcluirMinha contribuição é no sentido de exemplificar outras dinâmicas que estão em consonância com as descritas e que podem ser realizadas. No PROEJA do IFSul, já trabalhamos com mapas da cidade, onde os estudantes demarcam as redes necessárias para o funcionamento de um bairro, por exemplo. Redes de água, esgoto, telefone, ônibus, coleta de lixo, etc, para debatermos as implicações e impactos gerados pela presença ou ausência. Também trabalhamos com o levantamento de áreas de degradadas e geradores (legislação, instalação de indústria, descaso de vizinhança, etc. Sempre partindo do pressuposto de que o ambiente urbano é um dos habitats naturais do homem, do cidadão.
Muito obrigada pela sua contribuição.
ExcluirKatinei
Estimadas autoras, gostaria de parabenizá-las pela escrita do trabalho, extremamente coeso e que nos instiga a continuar a leitura.
ResponderExcluirGostaria de compartilhar uma experiência que temos desenvolvido aqui no CETEP do Médio Sudoeste da Bahia, a partir de um projeto denominado "Escola Verde". Com este projeto, os alunos do curso Técnico em Meio Ambiente desenvolvem projetos agroecológicos em escolas municipais, através de atividades práticas como: construção e o manejo de hortas, paisagismo, produção de bioinseticidas. Esse compartilhamento de saberes permite uma interação entre saberes teóricos e práticos, proporcionando uma formação omnilateral.
Como docente, deixo um questionamento: Vocês já pensaram na possibilidade de fundar uma associação ou cooperativa na escola, de modo que os alunos possam comercializar os produtos que possuem essa "pegada ambiental"?
Obrigada pelas valiosas contribuições,
Att,
Lília Rezende dos Santos.
Boa tarde! Obrigada pela contribuição. O projeto ainda esta em desenvolvimento e foi interrompido por conta da pandemia, mas quando ocorrer o retorno das aulas presencias vamos ver as possibilidades de uma cooperativa em conjunto com outra escola do município, que está desenvolvendo um projeto de reutilização dos retalhos de tecido.
ExcluirKatinei