OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE JOVENS E ADULTOS

 



Katinei Santos Costa . Secretaria Municipal de Educação - SEED; katineicosta@gmail.com;
Márcia Maria de Jesus Santos.  Instituto Federal de Sergipe. marmjsantos@gmail.com.

 

Introdução

 

A preocupação com os problemas ambientais causados pelo uso irracional da natureza e com o futuro da vida no/do planeta fez com que surgisse a necessidade de desenvolver uma consciência crítica das ações do homem no meio, como também a necessidade de preservar o meio ambiente. A educação tem fundamental importância na formação intelectual e no desenvolvimento de práticas sociais que preservem os recursos naturais. A escola é o espaço de diálogo e de disseminação de conhecimento que tem como objetivo promover a conscientização ecológica.
Com o propósito de refletir sobre a problemática ambiental e o papel da Educação Ambiental nas escolas e como ações escolares e domésticas do cotidiano dos alunos podem contribuir para a formação de uma sociedade consciente, o presente trabalho foi desenvolvido na Escola Estadual Tobias Barreto, localizada no município de Tobias Barreto – SE, com os alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) do ensino médio.
Para alcançar os objetivos propostos foram realizadas leituras bibliográficas, discussões em grupos que provocaram uma reflexão crítica nos alunos sobre suas ações individuais e coletivas, e como essas contribuem para a degradação ambiental. Como também, refletir sobre o processo de produção capitalista e as consequências do consumo exacerbado que põe em risco a existência da humanidade.
Diante da emergência de mudar as ações e valores da comunidade escolar, como proposta metodológica foi desenvolvido o Projeto Escola Verde a partir da realização de oficinas pedagógicas para promover uma conscientização coletiva e a prática da reutilização de resíduos sólidos. A Educação Ambiental no ensino da EJA do ensino médio se desenvolveu a partir da prática pedagógica associada a vivência dos alunos para se criar uma mentalidade crítica do uso e da conservação do planeta que assegure o bem-estar e a existência humana.

 

2. Desenvolvimento

A questão ambiental tem se intensificado nos discursos e nas pesquisas acadêmicas diante do avanço dos problemas ambientais gerados pelo uso desordenado da natureza pelo homem, sem se preocupar com a vida no/do planeta. Com o avanço tecnológico e o aumento exacerbado do consumo, o homem degrada os recursos naturais e produz resíduos que alteram e destroem o planeta para gerar riqueza. Diante dessa preocupação com os problemas gerados pela ação predatória do homem sobre o meio ambiente, surgiu a necessidade de se formar uma nova consciência quanto ao uso dos recursos naturais e de se criar hábitos de consumo consciente que preservem a natureza para garantir as necessidades das gerações futuras.
A conscientização ecológica é uma ação que está ligada a educação, pois é através dela que o homem encontra formas de se relacionar com a natureza e para se viver em sociedade, então é desse consenso quanto a necessidade de mudanças de mentalidade para preservar a natureza que surgiu as ações educativas nas instituições que levou a institucionalização da Educação Ambiental no Brasil através da Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental. Em seu Art. 1º, a Lei assim define Educação Ambiental:

 

Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

 

E ainda define que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (Brasil, 1999). Nesse sentido, é através do processo educativo, formal ou não, que o homem desenvolve a capacidade de se apropriar do espaço em seu próprio benefício, e a Educação Ambiental tem como objetivo trazer a reflexão sobre o meio ambiente, a fim de contribuir com a preservação e utilização sustentável dos recursos naturais.  Conforme o Ministério do Meio Ambiente,

 

A Educação Ambiental tem como objetivo contribuir para a conservação da biodiversidade, para a auto realização individual e comunitária e para a autogestão política e econômica, através de processos educativos que promovam a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida (MMA, 2001, p. 18).

 

A EA associada a educação vem contribuir com a conscientização da necessidade de se preservar o meio ambiente desde as séries iniciais, visando a construção de valores e práticas sustentáveis de utilização dos recursos naturais. É o chamado da sociedade em geral para a formação de uma nova sociedade, preocupada com o uso racional da natureza, com a necessidade de se repensar a relação do homem com a natureza, que historicamente se deu de forma predatória com o propósito de produzir riqueza em detrimento da miséria do planeta. Nesse sentido, a educação ambiental é um instrumento de formação e conscientização do uso sustentável da natureza em todos os níveis do processo de aprendizagem na escola e fora dela. Segundo Drew (2005, p. 89),

 

A Educação Ambiental não deve ser entendida como um tipo especial de educação. Trata-se de um processo longo e contínuo de aprendizagem de uma filosofia de trabalho participativo em que todos: família, escola e comunidade, devem estar envolvidas. O processo de aprendizagem de que trata a Educação Ambiental, não pode ficar restrito exclusivamente à transmissão de conhecimentos, à herança cultural do povo às gerações mais novas ou a simples preocupação do educador inserindo em seu contexto social. Deve ser um processo de aprendizagem centrado no aluno, gradativo, continuo e respeitado de sua cultura e de sua comunidade (DREW, 2005, p. 89),

 

Segundo Moreira (2002) a principal função da Educação Ambiental é a formação de cidadão conscientes, preparados para a tomada de decisões e atuantes na realidade socioambiental, comprometidos com a vida, o bem-estar de cada sujeito e da sociedade, tanto em nível global como local. Assim, o ensino sobre o meio ambiente deve contribuir principalmente para o exercício da cidadania, estimulando a ação transformadora além de buscar aprofundar os conhecimentos sobre as questões ambientais e de estimular a mudança de comportamento e a construção de novos valores éticos menos antropocêntricos (BERNA, 2004, p. 18).

A Educação Ambiental busca contribuir para a formação de cidadão conscientes de sua responsabilidade com a preservação do planeta e comprometidos com o bem estar das gerações do presente e do futuro. Conforme Loureiro (2012) a educação é feita por atores, todos sendo sujeitos de seus processos educacionais, com suas identidades e individualidades respeitadas, podendo deste modo enxergar e construir seu próprio conhecimento baseado na sua própria realidade.
A educação associada a EA pactua com a formação de cidadão que possam contribuir para o equilíbrio entre homem e natureza, e deve ser desenvolvida em todos os lugares e por todos, mas a escola tem um papel primordial.  Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 no artigo 225, inciso do VI parágrafo, deve se promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e conscientização publica para a preservação do meio ambiente. E ainda, afirma que:

 

Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente correto, bem se uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defender e preservá-lo para os presente e futuras gerações (BRASIL, 1988)

 

A Educação ambiental deve levar o educador e o educando desenvolver ações e reflexões para compreender a problemática ambiental e criar ações que possam buscar soluções para possíveis problemas. Conforme, Vilmar Berna (2004, p. 30) o Educador ambiental deve procurar colocar os alunos em situações que sejam formadoras, como por exemplo, diante de uma agressão ambiental ou conservação ambiental, apresentando os meios de compreensão do meio ambiente está em toda a nossa volta. Segundo o autor a educação não tem significado se estiver dissociada da realidade, mais importante que dominar informações sobre um rio ou ecossistema da região é usar o ambiente local como motivador.
Dessa forma, a educação é fundamental para a promoção do desenvolvimento sustentável, abordando questões ambientais e de desenvolvimento da sociedade capitalista, bem como estimulando a mudança de hábitos que possibilite uma melhor qualidade de vida. A Educação Ambiental compreende um conhecimento interdisciplinar teórico/prático/teórico cujo objetivo é a reflexão sobre o meio ambiente, a fim de criar uma consciência de preservação e utilização sustentável do espaço natural.
A problemática ambiental está cada vez mais presente nos discursos acadêmicos e na mídia, há uma alerta constante que põe em risco a vida do/no planeta. A educação tem papel fundamental nesse processo de conscientização da população para o uso sustentável da natureza. O desafio que se coloca é trabalhar a Educação Ambiental em turmas de Jovens e Adultos do ensino médio, de forma contextualizada e participativa, cujo objetivo é criar uma consciência ecológica a partir da reflexão coletiva e individual da contribuição desses sujeitos com o planeta.
Cabe ao professor estimular a reflexão acerca de valores e atitudes cotidianas dos educandos para que eles se reconheçam como sujeitos críticos e atuantes. Segundo Loureiro (2012) o educador deve adotar procedimentos da educação ambiental que levem os educadores e educandos a conhecer e reconhecer a realidade, e assim refletir e criar ações que articuladas aos diversos saberes possam buscar possíveis soluções para os problemas, ou seja, o educando deve compreender o ambiente como um todo, em sua complexidade e totalidade; e assegurar e enriquecer as ações coletivas e organizadas.
Segundo o autor a Educação Ambiental tem como categorias chaves: conscientizar, emancipar e exercer a cidadania, e a conscientização é vista como um comprometimento com a transformação de uma sociedade injusta e desigual. Dentro desse contexto, buscou-se primeiro a reflexão de todo o processo de produção capitalista que tem como objetivo a expropriação dos recursos naturais para produzir riqueza. Dessa forma, compreender a produção do espaço a partir dos paradigmas: lucro x natureza, em que se evidencia com o consumismo exacerbado que gera um acúmulo de resíduos que poluem e degradam o meio ambiente.
Essa reflexão levou os alunos a perceberem que as suas ações no coletivo contribuem e alimentam esse sistema econômico que é a causa dos inúmeros problemas ambientais, se criou uma consciência ecológica que provocou uma inquietação quanto as suas ações cotidianas e ao mesmo tempo uma angustia diante da não superação desse sistema que degrada o meio ambiente e coloca em perigo a existência humana. Diante desse conflito chegou-se a conclusão que era preciso disseminar esses conhecimentos e possibilitar a conscientização coletiva da escola, pois só será possível uma outra sociedade se as mudanças forem coletivas, se provocar processos de mudanças sociais e culturais que visem o uso sustentável do planeta.
Se há uma urgência em mudar os valores e padrões de consumo e de uso da natureza, tem de começar agora, a partir da sala de aula, tem de se formar indivíduos capazes de reconhecer os problemas ambientais e desenvolver a capacidade de agir sobre eles em suas comunidades. Então surgiu o Projeto Escola Verde que tem como proposta desenvolver ações na Escola Estadual Tobias Barreto e na comunidade para minimizar os impactos ambientais. No primeiro momento foi realizada visitas empíricas e o levantamento dos principais resíduos sólidos produzidos no município, em seguida os alunos elaboram oficinas de reciclagem desses resíduos. No momento seguinte eles apresentaram para a comunidade escolar o resultado das atividades e apontaram as principais problemáticas ambientais do município.
O município de Tobias Barreto apresenta uma dinâmica comercial que atende vários municípios do estado de Sergipe e da Bahia, com destaque para a produção de artesanatos, tecidos e confecções. São várias fabricas de artigos de cama, mesa e banho que utilizam como matéria prima o tecido, e ao longo dos anos essa atividade gerou uma problemática ambiental, pois as sobras dos tecidos eram despejadas em terrenos baldios ou as margens de rios, de acordo com a pesquisa ainda permanece essa prática em algumas unidades. Diante da problemática os alunos desenvolveram a oficina “O que fazer com o retalho?”, na qual eles produziram vários objetos com as sobras de tecidos ou reaproveitam tecidos velhos para confeccionar objetos de decoração.
As vias de acesso a cidade são em sua maioria são precárias, por conta dos buracos e da má qualidade do asfalto, que tem como consequência uma rotatividade constante de pneus nos veículos, gerando um acúmulo significativo desse material em terrenos baldios e nas oficinas de carros. Nesse contexto, um segundo grupo propôs a reutilização dos pneus para arborizar o ambiente escolar, como também de latas de alumínio e de sobras madeiras.
Ao analisar os resíduos sólidos produzidos pela população, foi identificado uma quantidade muito grande de garrafas pets, de latas, de caixas de papelão, que é um material reutilizável pelas próprias indústrias, e uma boa parte é coletado pelos catadores de lixo que sobrevivem dessa atividade. Nesse sentido, o grupo propôs uma oficina pedagógica na qual desenvolveu vários jogos lúdicos que contribuem para o processo de ensino e aprendizagem nas séries iniciais.
Um outro material encontrado em grande quantidade foram caixotes, devido a dinâmica da feira livre e do intenso comércio, há o fluxo intenso de verduras e legumes. A madeira é um material que demora para se decompor no ambiente e pode ser reutilizado de maneira sustentável na produção de móveis e objetos de decoração. A “Oficina Casa Sustentável” trouxe como proposta utilização do caixote na decoração de festas e para a produção de móveis, como também a reutilização de garrafas pets, de papel, de embalagens de vidros e caixas de papel para produzir objetos de decoração.
As oficinas foram planejadas e desenvolvidas pelos alunos que ao refletirem sobre a problemática ambiental relacionaram com a sua vivência e sentiram a necessidade de disseminar o conhecimento para a comunidade escolar com o propósito de provocar mudanças de atitudes e de pensamento sobre as questões ambientais.

 

4.  Considerações finais


Os problemas ambientais são resultantes do uso irracional da natureza pelo homem que coloca em risco o futuro da existência humana, assim, é emergente a necessidade conscientizar a humanidade quanto ao uso sustentável do planeta e desenvolver novas atitudes e valores que contribuam para a preservação da vida. Dentro desse contexto, a educação assume um papel primordial, como instrumento de formação intelectual e de cidadãos críticos capazes de atuar e interferir nas relações sociais estabelecidas entre o homem e a natureza.
Dessa forma, as discussões e as reflexões realizadas em sala de aula, como também as práticas desenvolvidas pelos alunos contribuíram para o surgimento de novas atitudes e valores ao se utilizar dos recursos naturais, como também de novas práticas de consumo. Podemos afirmar que a Educação Ambiental são metodologias e práticas educativas que podem ser adotadas por qualquer pessoa e nos mais distintos ambientes, e a aprendizagem será mais efetiva se a atividade estiver relacionada às situações vividas pelos alunos.

 

Referências Bibliográficas


BERNA, Vilmar. Como fazer educação ambiental. 2. Ed. São Paulo: Paulus, 2004.

BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Política acional de Educação Ambiental (PNEA). Dia rio Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2 de abril de 1999. Seção. p. 1- 3.

DREW, David. Processos interativos homem meio-ambiente. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2005.

LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2012. 168 p.

MMA, Ministério do Meio Ambiente. Revista Eletrônica em Turismo. Disponível em: http: www.mma.gov.br. Acessado em 29, Abril 2019.

Comentários

  1. Prezados autores, parabéns pelo relato!
    Minha contribuição é no sentido de exemplificar outras dinâmicas que estão em consonância com as descritas e que podem ser realizadas. No PROEJA do IFSul, já trabalhamos com mapas da cidade, onde os estudantes demarcam as redes necessárias para o funcionamento de um bairro, por exemplo. Redes de água, esgoto, telefone, ônibus, coleta de lixo, etc, para debatermos as implicações e impactos gerados pela presença ou ausência. Também trabalhamos com o levantamento de áreas de degradadas e geradores (legislação, instalação de indústria, descaso de vizinhança, etc. Sempre partindo do pressuposto de que o ambiente urbano é um dos habitats naturais do homem, do cidadão.

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  2. Estimadas autoras, gostaria de parabenizá-las pela escrita do trabalho, extremamente coeso e que nos instiga a continuar a leitura.
    Gostaria de compartilhar uma experiência que temos desenvolvido aqui no CETEP do Médio Sudoeste da Bahia, a partir de um projeto denominado "Escola Verde". Com este projeto, os alunos do curso Técnico em Meio Ambiente desenvolvem projetos agroecológicos em escolas municipais, através de atividades práticas como: construção e o manejo de hortas, paisagismo, produção de bioinseticidas. Esse compartilhamento de saberes permite uma interação entre saberes teóricos e práticos, proporcionando uma formação omnilateral.
    Como docente, deixo um questionamento: Vocês já pensaram na possibilidade de fundar uma associação ou cooperativa na escola, de modo que os alunos possam comercializar os produtos que possuem essa "pegada ambiental"?

    Obrigada pelas valiosas contribuições,
    Att,
    Lília Rezende dos Santos.

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    1. Boa tarde! Obrigada pela contribuição. O projeto ainda esta em desenvolvimento e foi interrompido por conta da pandemia, mas quando ocorrer o retorno das aulas presencias vamos ver as possibilidades de uma cooperativa em conjunto com outra escola do município, que está desenvolvendo um projeto de reutilização dos retalhos de tecido.

      Katinei

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