1 INTRODUÇÃO
A educação de jovens e adultos é conceituada
pela Lei de Diretrizes e Base-LDB, nº 9394/96- como uma modalidade de educação
voltada para a formação de estudantes que por motivos diversos não conseguiram
ingressar ou concluir os seus estudos no período regular que compreende a
educação básica.
Apesar de regulamentada como uma modalidade
de ensino, a educação de jovens e adultos vem se constituindo no decorrer dos
anos como um campo que traz instigação politica. Esta instigação politica tem
sua origem na ideia de reparação dos direitos negados no decorrer de década a
esta camada da população, que devido a suas condições precárias abandonavam os
estudos para entrar no mercado de trabalho.
Esta realidade vivenciada por estes
estudantes/trabalhadores em sua grande maioria exige que a proposta
didático/pedagógica utilize-se de diversos instrumentos de integração que
viabilize a apropriação do conhecimento a partir de aportes teórico, prático e
cultural respeitando as diversidades de valores, costumes, crenças e sentimentos
desse público que está na escola, mas já traz dentro de si uma gama de e conhecimento
que devem ser valorizado respeitado.
Considerando o que foi exposto o presente
relato tem como finalidade compartilhar as experiências vivenciadas no decorrer
do estagio de regência do curso de Pedagogia, realizado em uma escola do
município de Valença/BA, no ano de 2010, com estudantes do 4º ano da Educação
de Jovens e Adultos, a partir da elaboração de um projeto com o titulo: EJA:
Leitura, cidadania e trabalho, com carga horaria de 60 horas. Este projeto teve
como objetivo proporcionar aos estudantes momentos de leituras, intepretação e
produção, por meio de textos diversos com temas voltados para leitura, para a cidadania
e para o trabalho, a fim de promover a sua emancipação enquanto cidadão de
direitos e deveres.
Apesar de já ter se passado dez anos desta
experiência considero que o que vai ser compartilhado aqui se trata de algo
atual, pois ainda, buscamos um modelo de educação para jovens e adultos que atenda
na sua proposta pedagógica esta relação entre teoria e prática associada ao
cotidiano dos estudantes.
Tomando como parâmetro a lei 11.788/2008, O estagio
curricular supervisionado tem como objetivo oferecer aos graduandos em
pedagogia a oportunidade de vivenciar situações reais do nosso campo de
trabalho, despertando em nós a capacidade de planejar, executar e avaliar. Desta forma, como pedagoga, não
poderia pensar um projeto de estágio que contemplasse as ações que ampliasse o
meu conhecimento didático/pedagógico, sem que estas ações pudessem contribuir
para o processo de ensino e aprendizagem destes estudantes, aluno regular do
curso noturno da educação de jovens e adultos.
Por
isso, o método utilizado neste trabalho foi o Freiriano, que consiste em
utilizar os conhecimentos do cotidiano dos estudantes no seu processo de
formação aproximando os estudantes da realidade. Martins (2007) afirma que esta
forma de conduzir a aprendizagem deve fazer o estudante aprender a aprender
refletindo sobre sua própria atuação, como sujeito do processo.
Brandão (1981) compreende que o método proposto
por Freire, identifica-se com a perspectiva de aprender a ler o mundo a partir
da realidade dos estudantes, por isso, este método tem como ponto de partida o
cotidiano destes sujeitos. Para Freire
(1987, pg. 11) “O homem se reconhece como sujeito que elabora o mundo; nele, no
mundo efetua-se a necessária mediação do autoconhecimento que o personaliza e o
conscientiza como autor responsável de sua própria historia.”. Sendo assim, as ações pedagógicas realizada
com os estudantes do EJA, devem ser pautada no diálogo, na troca de experiência
e no compartilhamento de saberes.
Logo, o método usado por Freire não consiste
em mero caminho a ser trilhado pelos profissionais de educação, mas uma
proposta de reflexão entre o que é ensinado e o que é vivenciado pelos
estudantes, exigindo, assim, do professor, na condução de sua atividade
educacional, o uso de mediações significativas no processo ensino e
aprendizagem.
Martins
(2007) afirma que aquilo que os estudantes apenas ouvem logo se esquece daquilo
que veem pouco guardam, mas aquilo que fazem e descobrem jamais esquecerão.
Visando alcançar a aprendizagem a partir destas três ações: ouvir, ver e fazer,
sem perder de vista o conhecimento prévio dos estudantes, escolheu-se usar
neste trabalho o método de Freire atrelado à pedagogia por projetos. O autor
sinaliza que a pedagogia por projetos tem como objetivo levar os estudantes a
consolidar o seu conhecimento de forma prazerosa, transformadora, utilizando-se
da integração da cooperação e da criatividade.
Partindo destas primícias, o projeto
EJA: Leitura Cidadania e trabalho, foi articulado pensando temas ou problemas
da realidade social dos estudantes do EJA, embora estes temas escolhidos não
fossem conteúdos específicos das disciplinas tradicionais, eles foram
trabalhados em uma perspectiva interdisciplinar, associando os conhecimentos
desenvolvidos no decorrer do projeto com as aprendizagens relacionadas às
disciplinas oficiais.
Para
tanto, foram elaborados planos de atividades específicos para cada categoria
trabalhada, de forma que os conteúdos fossem correlatos com os componentes
curriculares contidos no planejamento pedagógico do curso, respeitando a
especificidade da cada disciplina.
Por fim, baseado em uma metodologia
emancipadora a atividades realizadas com os estudantes no decorrer do estagio
curricular, através do projeto EJA-Leitura cidadania e trabalho desafiava-os a
usarem a sua criatividade, para isso, os trabalhos individuais/coletivos foram
pensados de forma que à medida que fossem realizados possibilitasse aos
estudantes compreender o seu lugar naquele espaço de aprendizagem, não mais
como estudante passivo, mas como sujeito do seu processo de aprendizagem.
2 EJA:
LEITURA, CIDANIA E TRABALHO
2.1
EJA
O art. 37 no seu paragrafo 2º estabelece que
o poder público deve promover o desenvolvimento da educação de jovens adultos a
partir de ações integradas e complementares. Estas ações precisam esta
articulada com as necessidades formativas do estudante trabalhador, observando o
interstício de tempo trabalho e de tempo escola. Gadotti (2014) defende que educação de jovens
e adultos deve ser prioridade nas discussões que envolvam o direito a educação,
para ele o direito a educação não prescreve aos 14 anos, mas vincula-se a uma
vida como um todo,
Segundo Gadotti (1992), esses jovens e
adultos pertencem a um universo humano diferente da criança e por isso demandam
outras formas de organização escolar, ou seja, os conteúdos e práticas devem
ser definidos levando em consideração o interesse imediato dos estudantes. Para
Freire (1982) a alfabetização de adultos é vista como um ato politico, e um ato
de conhecimento, por isso, torna-se um ato criador.
No contexto da educação de
jovens e adultos, o conhecimento necessita está interconectado entre o conteúdo
formal com o conteúdo informal, isto não significa segundo Gadotti (2014)
escolarizar o conhecimento tradicional, descontextualizando-o e submetendo a um
rigor técnico concebido como verdade absoluta, mas estabelecer um diálogo entre
o saber do cotidiano com o saber técnico científico.
Segundo Gadotti (2001) a
educação proposta pela EJA deve ser sempre multicultural. Uma educação para o
desenvolvimento do conhecimento e para integração na diversidade cultural dos
sujeitos, ele cita ainda em seu texto: “Um cenário possível da educação de
jovens e adultos no Brasil, que uma longa caminhada começa por um pequeno passo
e esse primeiro passo é acreditar na educação de jovens e adultos.” Acreditar
para transformar a EJA em um campo de direitos, que contribui para a formação
politica dos jovens e adultos brasileiros.
2.2
LEITURA
Sabemos que o ato de lê deve
proporcionar para os estudantes do EJA uma relação de aproximação com algo que
tenha sentido para sua vida, de forma que venha despertar nele interesse pela
leitura. Segundo Freire (1989) a leitura não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem
escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo.
Neste sentido percebemos que a leitura tem
sentido para os estudantes do EJA quando esta associada as suas experiência de
mundo, por isso, não cabe na educação de jovens e adultos, o uso de textos
acadêmicos com uma linguagem inacessível e distantes dos estudantes, porque
isso pode frustrar o seu processo de ensino e aprendizagem. Aguiar e Andrade
Neta (2015) considera que “ser leitor exige participação ativa do sujeito no
processo de sentidos para o lido”. Já Silva
(1984) diz
que leitura se manifesta, então, como a experiência resultante do trajeto
seguido pela consciência do sujeito em seu projeto de desvelamento do texto.
De
acordo com Freire (1989) “a leitura de mundo precede a leitura da palavra à
leitura desta implica na leitura daquela”, ou seja, uma complementa a outra. Na
educação de jovens e adultos este pensamento de Freire é amplamente percebido,
quando na pratica da sala de aula pode constata que grandes narrativas são
melhores interpretadas quando tem um significado para os estudantes.
O ato de ler como construtor de sentidos, deve
permiti que os estudantes processem, critique, aprecie, contradiga ou avalie o
material escrito que tem diante de si. (DIAS e GOMES, 2015) Por isso, os textos
utilizados ao longo do projeto EJA-Leitura, cidadania e trabalho, eram sempre
textos com uma linguagem acessível, mas com cunho critico intuitivo e
reflexivo, partindo de assuntos do interesse dos educandos.
2.3 CIDADANIA
O termo cidadania no Brasil é novo,
considerando que passou a ser difundido com mais frequência após a constituição
de 1988. Sendo assim, iniciaremos esta exposição sobre cidadania apresentado os
capitulo I e II da Constituição Federal de 1988, estes capítulos versam sobre
os direitos e garantias fundamentais de todo cidadão brasileiro. O capitulo I
expressa os direitos coletivos e individuais e o capitulo expressas os direitos
sociais, incluído o direito do trabalho.
A constituição Federal de 1988, ainda estabelece
em seu Art. 205 que a educação direito de
todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho
(BRASIL, 1988). Desta forma, é um dever de todo o educador promover em sua sala
de aula discussões que amplie o entendimento dos estudantes concernentes aos
seus direitos e deveres em uma sociedade democrática.
Reconhecer os jovens e adultos como
membros de coletivos traria outro horizonte para a EJA. Superar a ideia de que
trabalhamos com percursos individuais, para tentar mapear que coletivos a
frequentam. O coletivo negro, o coletivo mais pobre, o coletivo de
trabalhadores, o coletivo dos sem-trabalho, coletivo das mulheres. (ARROYO,
2012, p.24)
O autoconhecimento dos educandos do EJA
ocorre pelo seu processo de emancipação que é construído em meio às
contradições e conflitos vivenciados no cotidiano escolar em meio a uma
diversidade de conhecimento. Amorim, Aquino e Souza (2016) afirma que o direito
a cidadania deve ser a primeira promulgação de um paradigma de educação para a emancipação,
constatando-se que a luta pelo direito negado já faz parte de uma formação que
começa fora da escola.
Desta forma, a escola como espaço de
consolidação de aprendizagens apreendidas no cotidiano dos estudantes, deve ser
um espaço aonde estas questões devam ser debatidas, descontruídas e
consolidadas para o bem de uma coletividade. Sendo assim, o direito a educação,
o direito a saúde, o direito ao trabalho, o respeito ao outro deve sim fazer
parte dos conteúdos escolares, frente a isto, o projeto EJA: leitura, cidadania
e trabalho abordou a cidadania a partir dos conteúdos voltados para os direitos
individuais e coletivos, os direitos sociais, o direito a voto associados à
realidade dos estudantes.
2.4
TRABALHO
O trabalho no decorrer da historia da
humanidade passou por mudanças significativas que contribuíram para atual
situação global. A princípio o trabalho era compreendido como algo natural que
fazia parte da vida do ser humano, ou seja, o trabalho assumia uma
característica ontológica. Borges (2017) diz que o trabalho pode ser
considerado uma ação coletiva e social pela qual o homem responde as suas
necessidades, sendo o trabalho capaz de defini-lo como ser.
Com o
avanço da industrialização o trabalho subdividiu-se de acordo com Marx em
trabalho manual e trabalho intelectual, este processo de hierarquização
modificou o sentido do trabalho para homem, este deixou de ser parte da sua
existência para se transformar em uma mercadoria a serviço do capital.
De acordo com Marx (1818-1813) o modo de
produção capitalista se caracteriza pela exploração; isto é, pela apropriação
da força de trabalho. Esta é uma realidade presente em toda mundo, que se
perpetua através da educação que esta a serviço do capitalismo. Apesar do seu
predomínio o trabalho vazio de sentidos vem sendo questionado pelos defensores
de uma educação humana e integral que enxerga o trabalho como principio
educativo e ontológico, como é o exemplo de Marx, Engels, Gramsci.
O professor da educação de jovens e adultos
que pretende adotar o trabalho com principio educativo na sua atividade pratica
deverá considerar os apontamentos de Kuenzer (1991, p. 96), para tanto, deve
considerar:
Os
aspectos cognitivos: - os tipos de habilidade que são desenvolvidas pelo
trabalho; as condições para o desenvolvimento destas habilidades; o processo de
expropriação do saber; (a temática diz respeito, não aos aspectos psicológicos,
mas sociais, gerados pela contradição capital/trabalho); - o processo de
socialização pelo trabalho: comportamentos, aspectos organizacionais que tornam
o trabalho um princípio educativo ou não; os comportamentos de resistência e de
contestação ã reprodução das relações sociais de produção;
A
educação neste sentido assume um caráter emancipador, pois, contrapõem-se ao
modelo hegemônico que transforma o trabalho que por século foi à essência do
homem, em um elemento estranho e distante de sua “realidade” cotidiano, fazendo
com que o trabalhador não tenha mais orgulho no resultado do seu trabalho. Por
isso, Paulo Freire, é um referencial para o modelo de educação que vincula educação
com realidade, que aproxima o trabalhador da sua prática e possibilita que
estes venham ter consciência da sua condição de oprimido.
Conclui-se que o trabalho dignifica o homem
desde que produza sentido para sua vida, e não seja um elemento de opressão e submissão
deste aos interesses do capital. No entanto, que se vê é a supressão de direitos
conquistados há décadas, como é o exemplo da reforma trabalhista efetivada a
partir da À Lei
13.467/2017. Logo, a educação emancipadora deve trazer para os espaços
escolares estas discussões, para com isso, instrumentalizar os trabalhadores na
defesa de seus direitos.
3 AS CONTRIBUIÇÕES DO
PROJETO EJA: LEITURA, CIDADANIA E TRABALHO
PARA A FORMAÇÃO DOS ESTUDANTES DO 4º ANO/EJA DO MUNICÍPIO DE VALENÇA/BA
Todas as experiências vivenciadas pelos
estudantes do EJA no decorrer do Projeto EJA-leitura, cidadania e trabalho resultaram
em momentos significativos de aprendizagens, construídos com base na relação
teoria e prática tão amplamente defendida por Freire (1987). Para Freire os homens são na verdade seres da práxis, que ao longo
da sua vida produzem e são produzidos por uma relação entre o agir e o pensar.
Sendo assim, a primeira
categoria trabalhada neste projeto foi leitura, nesta fase, os estudantes foram
estimulados ao habito de ler, para isso, foram utilizados textos que guardavam
relação direta com a sua realidade. Por exemplo, o uso da música propiciou aos
estudantes momentos de descontração, que suavizava o seu estado de cansaço após
um dia de trabalho, Já o uso da poesia despertou lhes o interesse de
compreender os sentidos das palavras conhecidas e desconhecidas, o uso de texto
informativo estimulou a criticidades destes estudantes. Para incentiva-los, além
da leitura dos textos escritos, foi trabalhada também a leitura a partir do uso
das imagens e dos símbolos.
A segunda Categoria
trabalhada no projeto foi à cidadania, este tema foi apresentado aos estudantes
utilizando-se de textos legislativo como: a Constituição Federal de 1988 e a
lei de 8212/91 e lei 8213/91 que versa sobre os direitos previdenciários. Os
debates proposto em sala de aula abriu o entendimento dos estudantes
trabalhadores para situações vivenciadas no seu cotidiano. A primeira atividade
realizada teve como objetivo compreender o significado da palavra cidadão para
os estudantes. A segunda atividade
trouxe o seguinte questionamento para os estudantes: quais são os requisitos
necessários para o exercício da cidadania? Parece algo simples, mas para alguns
daqueles estudantes não foi! Pois, poucos sabiam responder! É denominado
cidadão todos aqueles que têm os seus direitos civis preservados, que vive em
sociedade democrática.
Estas ações realizadas com
os estudantes do EJA no decorrer do projeto oportunizaram a estes educandos
ampliarem o seu nível de conhecimento sobre o exercício da cidadania,
reconhecendo os seus direitos e deveres, entendendo a importância do exercício
do voto para a representatividade popular nos governança do país, deixando
claro, que o voto é algo inegociável, e que uma má escolha interfere na
condução das politicas publicas implementadas no país. Desta forma os assuntos,
abordados dava ênfase ao autoconhecimento dos estudantes como cidadão de
direitos e deveres comprometidos com um processo de formação que vai além dos
modelos hegemônico que permeiam o campo da educação.
A última categoria abordada
no projeto relacionava-se com a vida profissional dos estudantes, os assuntos
trabalhados despertou grande interesse nos estudantes, já que a grande maioria
vivia em condição de precarização, aonde os seus direitos era desrespeitados, seja
pela legislação ou pela omissão daqueles que os “contratavam”. Quando era
demitido não recebiam os seus direitos, e por uma relação de subordinação não
buscavam ajuda dos órgãos competentes. Percebi em seus relatos um fragmento do
texto de Freire (1987, p. 48), “Há em certo momento da experiência existencial
dos oprimidos, uma irresistível atração pelo opressor”, ou seja, na fala destes
estudantes, mesmo sentido a sua condição de oprimido, havia uma defesa
(justificativa) para que os seus direitos não fosse respeitados.
Nesta oportunidade, também foi trabalhado o
empreendedorismo individual, estimulando os estudantes que exerciam alguma
atividade informal a regulamentar a sua situação, e assim, ter os seus direitos
previdenciários garantidos. Com isso, percebe-se que o ensino emancipador proposto por Freire de
fato transforma a vida do estudante trabalhador, foi que pude testemunhar
através dos relatos dos estudantes no decorrer do projeto.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Toda a proposta desenvolvida no projeta
EJA-Leitura, Cidadania e Trabalho fundamentou-se no pensamento de Paulo Freire
que compreendia a educação como instrumento de libertação do oprimido e do
opressor. No entanto, esta superação só é possível se os ideais de liberdade
forem realistas, e não estejam dominados por uma relação velada de dominação
que tem como objetivo esconder os instrumentos de opressão sob a falsa ideia
que todos são iguais, ou que o individuo é responsável pelo o seu estado
social. Trazer esta discussão para dentro das escolas é um grande desafio para
os educadores, mas extremamente necessário.
Desta forma, a educação libertadora ela tem
que assumir um caráter reflexivo possibilitando ao individuo romper com a visão
de mundo a ele imposta e descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua
própria historia. Este modelo de educação emancipador compreende o ensino como
instrumento que agrega e consolida as múltiplas formas de se produzir o
conhecimento, através de categorias e atividades variadas.
É
neste sentido, que o uso destas categorias: leitura,
cidadania e trabalho corroboram com a formação dos estudantes do EJA,
demonstrando assim, que o ensino emancipador agrega o conhecimento de mundo ao
conhecimento elaborado e reelaborado pelos conhecimentos científicos. Portanto,
recorrer a estas categorias para o ensino do EJA é extremamente relevante nos
dias atuais, quando os direitos do cidadão vêm sendo negado a cada dia.
Para concluir farei referencia ao pensamento
de Marx e Gramsci que trata sobre a convivência dos dois sistemas de ensino
enquanto não houver a travessia de um sistema para o outro, ou seja, uma
educação unilateral e uma educação humana integral percebe-se que a convivência
destes dois pensamentos no Brasil se arrasta desde o século XX, mesmo com os
avanços conquistados. Eis ai um grande desafio: educar para a cidadania a partir de um modelo de educação neoliberal
e excludente mesmo se dizendo inclusiva como é o caso da educação de jovens e
adultos.
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Prezada Rosimere Lima,
ResponderExcluirInicialmente gostaria de parabenizá-la por ter compartilhado conosco a sua experiência tendo como pressuposto a sua preocupação com a aprendizagem libertadora, reflexiva e crítica baseada no método que adotou no seu estágio de regência. Muito importante e salutar saber que Paulo Freire referenciou a sua práxis. Nesse sentido, em que medida a academia foi importante na escolha do Método Paulo Freire no seu estágio de regência? Acredita que os cursos de formação de professores deveriam "estudar mais" Paulo Freire?Por quê?
Nas considerações finais, você toma a educação de jovens e adultos como um desafio "frente ao modelo de educação neoliberal e excludente" e que de fato, percebe-se cada vez mais presente e atuante. Para você, o que está faltando para que seja possível alcançar uma educação de jovens e adultos para a cidadania, conforme propõe Paulo Freire, diante das propostas neoliberais de um governo de extrema direita que não entende a educação como prática da liberdade?
Nelian Costa Nascimento
Bom dia, Nelian!
ResponderExcluirConsidero que academia foi uma ponte importante entre minha formação em pedagogia e os estudos de Paulo Freire, pois até então não tinha nenhum contato com o pensamento Freiriano, até porque a minha formação inicial foi totalmente tecnicista. Com academia aprendi que a educação deve proporcionar aos estudantes uma formação emancipatória.Para isso,
Excluiro curso de pedagogia me proporcionou a participar
e realizar diversos projetos com o vinho participativo e colaborativo,entre eles este que fez parte deste relato, e um outro que quero citar que foi: Luiz Gonzaga na Sala de aula.
Acredito sim que os cursos de formação de professores devem explorar mais o método de Freire, pois não se pode defender uma educação para a emancipação e se prender as velhas práticas, percebe- se que muitos professores ainda não conseguiram apropriar-se do pensamento Freiriano, por falta de aproximação com a proposta de associar os conteúdos ensinados na sala de aula com a realidade dos educandos, só com a capacitação deste professores poderemos vivenciar na pratica está experiência tão importante para valorização dos saberes tradicionais.
ExcluirEntendo que estamos diante de momento muito complicado para educação, com a supressão de investimento e outros atos que comprometem o futuro da educação em nosso país, no entanto, os grandes pensadores da educação tomaram os momentos difíceis para trazer novas propostas para se pensar a educação no contexto mundial e local. Por isso, penso que devamos tomar a responsabilidade para nos educadores, e buscar nas lacunas que os normativos legais nos permite a oportunidade para promover uma educação libertária. Podemos citar Marx, ele proponha uma educação Politécnica voltada para a integralidade do sujeito, mas reconhecia que era impossível essa transição de um momento para outro, então ele defendia que os sistemas convivesse até que houvesse a mudança por completo de um sistema para o outro. Então penso que devamos incentivar um processo continuo de formação não só dos professores, mas de todos que atuam na Educação, bem como a inserção das comunidades na escola, e o mais importante envolver os estudantes neste processo. Para finalizar quero citar uma fala citada ontem na abertura do Congresso: não queremos dialogar sobre os sujeitos do processo, mas com os sujeitos sujeitos do processo.
ExcluirObrigada, pela sua participação! Espero ter atendido a suas perguntas, caso não estou aberta ao diálogo! Um abraço.
ExcluirCaso não, *
ResponderExcluirPrezada Rosimeire, Bom dia!
ExcluirEstou muito satisfeita com a sua resposta. Parabéns! Contribuiu muito!
Obrigada, um abraço e um excelente congresso!
ExcluirBoa noite Rosimeire!! Primeiro quero parabenizar pelo importante trabalho relato. E segundo gostaria de saber como são as ações de políticas publicas voltadas para o EJA no município de Valença? Liz Leal mota Capistrano
ResponderExcluirFico agradecida, Liz, pela sua participação. Não tenho como te responder com propriedade, pois não atuo na rede municipal, mas vou te responder com base em relatos de colegas que atuam no município e no estado, primeiro o que ouço é que existem bons programas com relação a EJA, mas estes programas, muitas das vezes, não são efetivos, em sua grande maioria por falta de investimento, outro ponto citado é a falta de estímulo à participação dos estudantes, o que causa a grande evasão. Com base, nisso, penso que ainda se precisa avançar e muito nesta discussão que abarca as políticas públicas para educação de jovens e adultos e a sua implementação na prática.
ResponderExcluirLiz, para corroborar mais com a resposta, fiz uma consulta a secretaria do município, caso obtenha resposta, trarei mais informações.
ExcluirRosimere Silva Santos Lima
Liz, segue abaixo as informações recebidas da secretaria de educação do município:
ResponderExcluirAlfabetização de Jovens e adultos- Não existe nenhum programa em execução.
Fundamental I- Responsável o município
Fundamental II-Responsável o estado
Ensino Médio- Responsável o estado
PROEJA- Responsável o estado
Rosimere Silva Santos Lima
Liz, você possui alguma experiência com a educação de Jovens e adultos?
ExcluirRosimeire, parabéns pelo trabalho. Demonstra ter sido uma experiência muito significativa. Teria sido muito mais rico se incluisse falas dos sujeitos avaliando a participação no curso. Você não pensou em replicar esta experiência no formato de pesquisa acão?
ResponderExcluirJunio Batista
Junior, boa noite, obrigada pela sua participação, houve registro de fotos sim, mas por questões ética já que não teve como solicitar autorização para o uso das imagens, optei por não colocar. quanto a replicar a experiência sim tive interesse, mas nos últimos anos estava fora da área de educação, agora retomei os estudos e passei atuar como pedagogo, por isso, pretendo dar continuidade a alguns projetos.
ExcluirRosimere Silva Santos Lima
Parabéns Rosimere! Belo trabalho! Precisamos compartilhar cada vez mais experiências exitosas pautadas nos ideais de Paulo Freire, o maior pensador da história da Pedagogia! Atualmente, o legado do Patrono da educação brasileira vem sofrendo duros ataques por parte do atual governo. O que você, enquanto docente e pesquisadora, defensora deste legado, acha de tal fato?
ResponderExcluirMadiane de Assis
obrigada. Madiane, a sua participação é muito importante!
ExcluirComo educadora penso que estamos vivendo um grande retrocesso no sistema educacional, deixar de investir na educação popular faz parte de um projeto de governo que visa reduzir direitos conquistados durante décadas, sabemos que os avanços na educação popular foi fruto de ações dos movimentos populares, nesta perspectiva a educação dar aos estudantes a possibilidade de conhecer sua realidade, valorizando os saberes locais e tradicionais. Trago uma experiência citada por Caldart que cita o exemplo de um encontro com as crianças sem terrinha, neste encontro as criança demonstraram que se identificava com o ambiente educacional da sua comunidade, que amava o local onde viviam, havia naquele espaço de aprendizagem a ideia de uma educação para autonomia amplamente defendida por Freire. Diante disso, precisamos como educadores e educadoras assumir o compromisso com os territórios educativos que são símbolos de resistência, tomando como exemplo o movimento da reforma agraria popular movida pelos fundamentos da agroecologia, que busca estabelecer uma relação entre homem, terra e natureza com base na sustentabilidade para o imediato e para as gerações futuras.
Rosimere Silva Santos Lima
Rose, parabéns pelo relato e pelo olhar sensível à realidade da EJA! É desafiador trabalhar com os/as estudantes da EJA, mas acredito ser muito interessante e instigante, uma vez que carregam consigo variadas experiências, de vida e de trabalho, que dão um significado denso e forte para a educação da qual fazem parte e buscam, independente das diferentes condições que suas vidas lhes proporcionam. Tendo isso em vista, as experiências de vida dos/as estudantes vieram à tona nos momentos de efetivação do seu projeto de estágio? Poderia citar alguns exemplos? E como esses relatos de vida e de experiências dos/as estudantes lhe proporcionaram ressignificações de sua prática enquanto educadora? Abraços, Eliane Silva de Queiroz
ResponderExcluirEliane, obrigada!
ExcluirA experiência vivenciada no decorrer da execução do projeto, me fez refletir sobre algumas situações que até então não havia pensado, por exemplo, quando trabalhei com a musica Cidadão percebi como veladamente ou explicitamente somos excluídos nesta sociedade em que vivemos, em especial, como o trabalho transformou-se em uma mercadoria e deixou de ser motivo de orgulho desse trabalhador.
Cidadão-Zé ramalho
Tá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz, desconfiado
Tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio, moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai, vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte?
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja, moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Ao ouvir esta musica com os estudantes percebi como esta exclusão está tão perto do nosso cotidiano. Como educadora e como cidadão aprendi com esta experiência que devemos fortalecer as bases da educação para a cidadania, pois só assim teremos cidadão críticos e conscientes que entenda o valor do seu trabalho, defendo que pela educação o homem perceba que o trabalho de quem constrói o edifício é tão importante quanto aquele que atende em um escritório ou em um consultório. Defendo uma educação para a libertação, onde o oprimido não seja o defensor do seu opressor!
Rosimere Silva Santos Lima
Junior, boa noite, obrigada pela sua participação, houve registro de fotos sim, mas por questões ética já que não teve como solicitar autorização para o uso das imagens, optei por não colocar. quanto a replicar a experiência sim tive interesse, mas nos últimos anos estava fora da área de educação, agora retomei os estudos e passei atuar como pedagogo, por isso, pretendo dar continuidade a alguns projetos.
ResponderExcluirRosimere Silva Santos Lima