Bruno Sobral Barrozo. Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: eubarrozzo@gmail.com;
Wagner da Silva Dias. Universidade Estadual do Amazonas – UEA. E-mail: wagnerdias@usp.br.
Introdução
Torna-se necessário contextualizar,
brevemente, alguns aspectos gerais do processo migratório de venezuelanos(a)
para o Brasil. Roraima, que hoje sendo porta de entrada para a população
venezuelana, assim como os demais estados do Brasil e países da América Latina,
tem adquirido um grande reflexo no fluxo migratório, onde o fenômeno se vê nas
ruas: praças ocupadas, abrigos lotados e casas com até 31 moradores.
A
porta de entrada dos venezuelanos para o Brasil é o estado de Roraima, que faz
fronteira com a Venezuela e Guiana, deste modo, com o agravamento da crise na
Venezuela, a população do estado de Roraima nos últimos três anos, não foi nada
receptivo quanto a passagem dos imigrantes, que resultou para muitos ficarem em
localizações perto da Venezuela, pois de certa forma estariam mais próximos de
seus familiares. O município de Pacaraima é o mais próximo, fazendo fronteira
com o país vizinho. Com os venezuelanos, primordialmente, por conta da
situação, o trabalho escravo já foi encontrado durante esse processo de crise
no país vizinho.
No Brasil não foi nada diferente na
questão de empregabilidade. SPINDEL, (1980) afirma que leis elaboradas em 1879,
tinha como objetivo subordinar os imigrantes aos rigores do trabalho nas
grandes fazendas, utilizando-se de contratos de meação de longa duração, deste
modo, os trabalhadores que não cumprissem com as suas obrigações estariam
sujeitos à prisão e eram obrigados a regressar a seu trabalho depois de suas
sentenças serem cumpridas. No municio de Boa vista – RR existem cerca de 11
dependências, o abrigo santa tereza, que abriga somente homens, fica localizado
no bairro santa tereza. Contudo, o abrigo foi inaugurado no ano de 2018 tendo o
intuito de promover na vida dos refugiados um lar, com capacidade de abrigar
493 pessoas.
A partir destas primícias, a modalidade
conhecida como EJA – Ensino de Jovens e Adultos, atende pessoas com mais de 15
anos que por um algum motivo não conseguiram completar o ensino fundamental,
ensino médio na idade regulamentada. Hoje atualmente na Capital Roraimense,
existem 21 escolas estaduais e militarizadas que atuam nos três períodos,
sobretudo, o noturno, com a EJA. vale ressaltar que, a escola Raimunda Nonato
Freitas Silva oferta apenas o ensino fundamental, sendo 07 escolas estaduais e
militarizadas com a modalidade em Boa vista-RR, ofertando o ensino fundamental.
Já no ensino médio, existem 14 escolas estaduais e militarizadas.
Levando em consideração os aspectos
tratados, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise sobre a influência
de imigrantes venezuelanos inseridos de forma espontânea na rede pública de
ensino, dando destaque na modalidade EJA, sobretudo, na disciplina de
Geografia, no qual é uma ciência mundialmente conhecida pelas suas
representações cartográficas e uma das disciplinas escolares que chamam atenção
por ter mecanismos que contribuem para a formação discente, no âmbito da
criticidade, da visualização e estudos do espaço geográfico, sejam elas dentro
de sala de aula e/ou fora dela. A pesquisa foi realizada a partir de um viés
qualitativo de análise, tendo em vista sua relevância na descoberta e
interpretação do fenômeno que favorece o desenvolvimento de ações
transformadoras rumo ao combate do fenômeno observado, a exclusão escolar.
Isso, entretanto, não se constituiu em impedimento para a quantificação dos
principais dados que fazem parte da investigação. A efetivação da pesquisa teve
as seguintes etapas: Construção de diários reflexivos; pesquisa bibliográfica;
realização de entrevistas semi-estruturada com professores e análise e
interpretação dos dados.
Desenvolvimento
A ciência geográfica, tem de certa forma
avançado sensivelmente nas últimas décadas, por viés da teoria e prática de uma
Geografia crítica, que de certa forma está comprometida com as questões
socioeconômicas que se desentrelaçam no espaço geográfico. Aplicando-se no
processamento cognitivo dos alunos da EJA, vivemos hoje uma realidade no qual
estamos tornando mais humanos e solidários, pelo menos essa é a ideia. A
entrada de venezuelanos nas redes estaduais e municipais de ensino tem crescido
de maneira que universidades públicas como a Universidade Federal de Roraima –
UFRR tem feito um trabalho de integração entre o país vizinho com a comunidade
acadêmica.
Localizado em um bairro considerado
periférico, escola estadual Raimunda Nonato Freitas Silva tem um histórico
recente com o ensino de jovens e adultos. Deste modo, com a participação
atuante na comunidade, professores empenham um trabalho de resistência, pois o
índice de evasão de alunos durante o processo escolar era muito grande.
Portanto, hoje vivemos outra realidade, alunos que se desvincularam da escola
quando adolescentes, por questões econômicas e até mesmo por vulnerabilidade
retornam para dar continuidade aos estudos. O trabalho elaborado por um(a)
professor(a) de Geografia na EJA tem nos motivado a escrever e enaltecer os
mecanismos de estudos que fazem a integração de refugiados com alunos de
nacionalidade brasileira, fazendo com que haja uma relação interpessoal, aluno
com aluno e aluno com professor. Contudo, BEVENIDES, VLACH (2005) destacam com
clareza a importância de relacionar no método de ensino os diversos
conhecimentos prévios dos(a) alunos(a), onde destaca os conhecimentos prévio
dos alunos, ou seja, aqueles acumulados ao longo dos anos com os conteúdos
escolares da Geografia. “O saber prévio deve ser visto como um saber que, se
devidamente considerado, pode facilitar o acesso ao conhecimento científico da
Geografia”.
No contexto inicial com o surgimento do Ensino
de jovens e adultos – EJA foram encontrados um grande índice de pessoas que por
algum motivo abandonaram os estudos e que se torna bastante atual. Existem dois
grupos no qual foram precocemente excluídos de seus direitos educativos, sendo
eles: idosos com uma idade mais avançada, que viveram em uma época em que o
acesso à educação era mais difícil, principalmente nas zonas rurais, portanto
nesse grupo vamos ter os analfabetos, pessoas com baixa escolaridade. No
segundo grupo que se faz numeroso e heterogêneo de pessoas que abandonaram
precocemente os estudos por fatores sociais, extraescolares que tem muito a ver
com a pobreza, necessidade de egresso precoce no mercado de trabalho.
Boa
parte da População Brasileira ainda se encontra inseridas nesses grupos.
Segundo o institute of Statistics UNESCO (2019) no Brasil, cerca 92,0479% da
população de 15 anos ou mais idade é alfabetizada. Na Venezuela a realidade tem
sido um pouco diferente, no país venezuelano estimasse que 97,12709% da
População de 15 anos ou mais idade são alfabetizadas, porém há uma diferença
nesses países. Deste modo, com a crise
de 2018 instaurada na educação venezuelana, além da falta de alimentos para
merendas, as escolas da Venezuela sofreram com o colapso do sistema de
transporte e os preços inacessíveis das passagens de ônibus. Os cortes de água
e luz também eram frequentes. Por conta desses fatores, grande parte da
população para sua própria sobrevivência, foram obrigados a migrar. Jovens e
Adultos no auge da Graduação, crianças e Adolescente no processo escolar
primário foram motivados por fatores já citados a parar de frequentar as
escolas e universidades, a única solução era fugirem em busca de abrigo.
Contudo, no Brasil existe a lei do imigrante
e visitante LEI Nº 13.445, de 24 de maio de 2017, no que dispõe sobre os
direitos e os deveres do imigrante e do visitante, regula a sua entrada e
estada no país, estabelecendo princípios e diretrizes para as políticas
públicas direcionadas ao emigrante. Muitos
oriundos da Venezuela, sem exceção, estão em busca de uma vida melhor ao
comparado com situações econômicas e até mesmo de mobilidade no seu próprio
país. A partir deste breve histórico migratório de venezuelanos para o estado
de Roraima enalteceremos a vida e história de um imigrante e refugiado venezuelano
que de todos os modos foi injustiçado no seu próprio país, faremos a junção da
educação de jovens e adultos com a problemática da crise na Venezuela, tendo
acesso a direitos como educação no Brasil. De fato, a (EJA) tem sido a porta de
entrada de imigrantes em busca da continuidade dos seus estudos estagnados na
Venezuela, que é garantia e direito a toda a população, assim afirma a Constitución
de la República bolivariana de Venezuela, Capítulo VI, de los Derechos
Culturales y Educativos.[i] Assim se garante no Brasil, aos direitos e
deveres do imigrante e visitante, acesso igualitário e livre do migrante a
serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência
jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade
social. Contudo, a geografia tem tido um papel fundamental na EJA, no qual é
uma modalidade de ensino que abraçou todos aqueles que desejaram ou desejam
voltar a estudar. Desde a antiguidade a história da educação de jovens e adultos,
no Brasil demostra dificuldades e resistências desde que os jesuítas eram
responsáveis pela educação no Brasil colônia. Segundo OLIVEIRA (2019) no
período da colonização as poucas escolas existentes eram destinadas para a
classe média e alta. Na atualidade a modalidade EJA – ensino de Jovens e
Adultos tem passado por muitas mudanças no que diz respeito a grupos de
classes. Com a implantação da modalidade
nas escolas públicas estaduais, houve um acesso bem grande por adultos e idosos
de classe baixa por dar continuidade no processo de aprendizagem em sala de
aula, tendo um grupo muito restrito com interesse de garantir o diploma para
ingressa no mercado de trabalho formal, concursos etc.; no qual UNESCO (1997)
destaca a importância da educação de adultos desassistidos
A educação de
adultos engloba todo o processo de aprendizagem, formal ou informal, onde
pessoas consideradas “adultas” pela sociedade desenvolvem suas habilidades,
enriquecem seu conhecimento e aperfeiçoam suas qualificações técnicas e
profissionais, direcionando-as para a satisfação de suas necessidades e as da
sua sociedade” (UNESCO, 1997)
A
escola e sua relação intrínseca com o abrigo para refugiados
A escola estadual Raimunda Nonato Freitas
Silva, localiza-se no bairro Santa Tereza, o mesmo bairro onde encontra-se o
abrigo, que antes era temporário, hoje se tornou um refúgio para os
venezuelanos. Uma das características marcantes do abrigo é que ele destinado
apenas para homens sozinhos. Deste modo, a busca pela continuação dos estudos
tem crescido nas escolas pública de ensino regular na capital roraimense,
sobretudo, na educação de jovens e adultos (EJA) já que, para a classificação
em emprego formal, o ensino médio completo torna-se um fator determinante no
currículo. Segundo a assessoria de comunicação social do Ministério da educação
(MEC) o próprio Ministério da Educação, em conjunto com a Secretaria Estadual
de Educação e Desporto de Roraima, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura
de Boa Vista e a Universidade Federal de Roraima (UFRR), realizou, em janeiro
de 2019 uma força-tarefa para normalizar a documentação escolar de crianças
venezuelanas que necessitem realizar matrículas em escolas brasileiras. Por
meio de uma prova simulada, as crianças puderam ser avaliadas e niveladas para
ingressar na rede de ensino brasileira. Desde modo, a inserção dessas crianças
caracteriza hoje o ensino público de Roraima pluralizado em idiomas, ideias,
culturas etc. Já no ensino de jovens e adultos (EJA) obtivemos respostas acerca
do nivelamento feito com os imigrantes que reservaram suas noites para dar
continuidade a sua formação escolar.
Figura
01:
Localização da escola e do abrigo para refugiados e sua respectiva metragem.
Fonte: elaborado pelos
autores. 2020
Entrevista
com o(a) professor(a) de Geografia na modalidade EJA – Ensino de Jovens e
Adultos da E.E Raimunda Nonato Freitas Silva em Boa Vista-RR
Nesta seção, apresentaremos a fala de um(a)
professor(a), que deu o consentimento para a produção deste texto. Optamos por
incluir longos trechos das respostas, pois consideramos que serão importantes
para embasar nossa análise. Parte de nossas premissas são encontradas em
Bevenides (1996), quando afirma que ao discutir os valores democráticos, não
basta educar para a tolerância e para a liberdade, sem o forte vínculo estabelecido
entre igualdade e solidariedade, pois esta implicará o despertar dos
sentimentos de indignação e revolta contra a injustiça.
Quando perguntamos “Quais metodologias
didáticas você utiliza em sala de aula, quando hoje encontram-se grupos
pluralizados, sendo eles de nacionalidade brasileira e outros oriundos da
Venezuela, país pelo qual encontra-se em crise, a professora se mostrar
otimista, porem preocupada com a atual conjuntura da EJA, sejam eles nos
materiais didáticos que a escola disponibiliza a questão de socialização entre
imigrantes e brasileiros.
Os trabalhos
temáticos que nós trabalhamos, que são sobre a cultura e a culinária dos países
das Américas, eles se identificaram bastante com a questão da culinária. Mas em
especial na sala do Wany especifico nós trabalhamos os países da Europa,
continente asiático e os conteúdos programáticos que estar no conteúdo deles, e
também as questões ambientais, globalização e meio ambiente. Porém o Wany em
nenhum momento ele apresentou o seminário, ele não conseguiu apresentar o
seminário, eu dei os temas, mas ele não participou da apresentação, então eu
tive que passar outro trabalho avaliativo para ele, diferenciado. No show de
talentos que nós tivemos, muitos dos alunos que são considerados “problemáticos”
que estão envolvido com a justiça, com a questão das drogas, e esse alunos se
identificaram bastante e participaram bastante na apresentação cultural, e a
Educação de Jovens e Adultos deveria promover mais projetos interativos que
possam socializar e resgatar o lado cultural deles, de mostrar o dom artístico
deles ne, o canto a dança, a poesia, tivemos próprias produções de poesias
feito por eles mesmo, foi bem interessante.
Quando perguntamos “Sabe-se que com a
questão da imigração Venezuelana para o estado de Roraima, tem estimulado a
entrada de refugiados nas escolas públicas, ao seu ver, a EJA tem sido uma
porta de acesso para aqueles que emigram?” A professora se mostrar solidaria a
questões voltada a imigração e ao mesmo tempo indignada pelo descaso quanto a
entrada dos discentes no âmbito escolar e projetos voltado para este público.
Na questão da
imigração, a gente pode estar observando dois pontos. No caso da Educação de
Jovens e Adultos, eu tenho um aluno, venezuelano que faz o 9º ano, e assim, ele
tem uma grande dificuldade até mesmo de relacionamento com os colegas, a
própria comunicação, as atividades dele, ele se esforça, mas ainda a
dificuldades voltadas para o espanhol. Então é bem dificultoso o trabalho do
professor em sala de aula com os alunos imigrantes, que é outro idioma, tem a
questão cultural deles, tem todo uma relação. Para falar em relação aos
questionamentos do ensino básico normal (Regular) a gente tem vários alunos
estrangeiros, não apenas os venezuelanos, mas alunos Guyaneses, Colombianos.
Então é uma diversidade de imigrantes dentro do nosso estado.
Quando perguntamos sobre “Os
questionamentos hoje em sala de aula pelos próprios alunos, você encontrou
desafios quando se trata de Ensino de jovens e Adultos Imigrantes?” a
professora demostra preocupação por a Modalidade e ensino de Jovens e Adultos
encontrar
Acredito que
deveria ter um trabalho, um acompanhamento, uma triagem antes desses alunos
chegarem na escola, os professores deveriam passar por uma formação continuada
de capacitação, porque nos praticamente não estamos preparados para receber
essa quantidade de alunos, essa diversidade de alunos de países estrangeiros.
Quando perguntamos “Qual a relação
interpessoal deles, alunos Brasileiros com os alunos oriundos de países
estrangeiros que hoje são refugiados?” A
professora se mostra abalada, pois o espírito humanista das pessoas estar
sumindo aos poucos, e hoje na atual situação vemos a oportunidade de nos unir e
integralizarmos.
No caso do aluno
venezuelano Wany, na sala que ele estuda, ele passa maior parte do tempo em
sala de aula. Eu não o vejo assim muito no Intervalo, ele fica ali no
“mundinho” dele. Às vezes eu fico cobrando as atividades dele, eu falo até ele
conseguir entregar. As vezes ele me faz perguntas referente as aulas de
geografia, mas ainda há dificuldade na língua portuguesa, que eu já até
comuniquei com os professores e bem grande. No espanhol segundo a professora,
ele ainda sim tem dificuldades, de comunicação com os demais colegas.
Quando perguntamos: “Sobre questões de
políticas públicas, você consegue visualizar que o ensino de Jovens e Adultos –
EJA ainda há uma grande ruptura no que diz respeito tanto a qualificação de
professores quantos aos alunos? Pelo fato de se encontrar um público totalmente
pluralizado, cabe destacar que requer uma atenção especial?”.O(a) professor(a) se mostra bastante
otimista e apreensiva, por conta dos diversos fatores encontrados não só hoje
na modalidade de ensino (EJA) que dificulta muitas das vezes o processo de
ensino e aprendizagem dos discentes, mas que se estende desde o processo
inicial. Portanto o(a) professor(a) propõe soluções.
Sim, a gente
precisa de uma formação continuada de maiores investimentos de políticas
públicas voltadas para receber esse aluno imigrante que vem de países
estrangeiros, mas precisamos sim, da formação continuada, até porque eu já
estou a bastante tempo no estado, desde 2012 nos nunca fizemos formação
continuada em área nenhuma, quando eu entrei no estado, já entrei graduada, com
especialização, e desde la eu não participei de nenhuma formação continuada do
Estado. O estado não promoveu nenhuma formação continuada para professores. E
nenhum parâmetro voltado para a questão educacional. Então, quando se oferece
curso de capacitação, não dá com o horário do professor, do choque nos
horários, é bem dificultoso até mesmo para a escola liberar o professor para
fazer os cursos, é bem difícil, é bem criterioso. O último curso que fiz foi
fornecido pela universidade Federal, no qual aconteceu na Semana da Geografia e
não pelo Governo do Estado. Portanto é preciso que o governo faça políticas
públicas voltadas para a questão da formação continuada de professores da EJA.
Considerações
Finais
Os pensamentos da professora de Geografia
da escola Estadual Raimunda Nonato Freitas Silva resultaram em declarações de
grande valor para compreendermos o atual processo de ensino e aprendizagem das
escolas estaduais de Roraima que compõe o ensino de Jovens e Adultos.
Percebemos perspectivas ideológicas que nos dá uma ideia sobre as futuras
entrevistas com professores de Geografia e de outras disciplinas das outras 12
escolas que disponibilizam a Modalidade no estado. Teceremos mais alguns comentários
sobre as colocações da professora antes das considerações finais.
Ao ser questionada sobre quais
metodologias didáticas são utilizadas em sala de aula, a professora alega ter
várias, a começar pela falta dos próprios matérias que hoje sabe-se que no
ensino de jovens e Adultos – EJA, o processo de ensino e aprendizagem é
totalmente diferente do método de ensino para alunos matriculados no ensino
regular. A professora demonstra ter conhecimento desses saberes, e demonstra
satisfação em dá continuidade ao trabalho didático em sala de aula, pois muitos
que estão em sala de aula, querem consigo o conhecimento e a oportunidade de
poder ter acesso a novos conhecimentos.
Quando perguntamos sobre a relação
interpessoal deles, alunos brasileiros com os alunos oriundos de países
estrangeiros que hoje são refugiados a professora demonstrar tristeza, pois no
âmbito escolar as coisas certamente deveriam ser diferentes do que se encontra
do lado de fora da escola. A escola como lugar onde gere o conhecimento, criatividade
e mais do que tudo a criticidade, tem se deixado levar pelo individualismo.
Paulo Freire no livro pedagogia da autonomia fala sobre o professor, que no ato
de ensinar, deve ser critico, critico no ponto de saber mediar questionamentos
que pode até parecer ingênuos, mas que trazem uma reflexão de grande valor:
Na verdade, a curiosidade ingênua que, “desarmada”,
está associada ao saber do senso comum, é a mesma curiosidade que,
criticizando-se, aproximando-se de forma cada vez mais metodicamente rigorosa
do objeto cognoscível, se torna curiosidade epistemológica. Muda de qualidade,
mas não de essência. (FREIRE, 1997 p.17)
De qualquer forma, as falas revelam
um processo que ainda se repete por muito tempo, sendo eles pela falta de
estrutura de livros didáticos voltados para a modalidade EJA e hoje com a atual
conjuntura, a formação continuada de professores para a recepção de alunos
oriundos de outros países. Assim como nossa pesquisa, a entrada de imigrantes
nas escolas públicas ainda é recente em Roraima e, apesar de nos declararmos
favoráveis a uma implementação que integrem e interaja com todos os meios, é
preciso compreender o que pensam os sujeitos envolvidos, sobretudo aqueles do
ensino de Geografia.
Este estudo evidenciou algumas questões
envolvendo a entrada de imigrantes na modalidade EJA – ensino de jovens e
Adultos em Roraima. Com início de uma trajetória de pesquisa, sabemos que o
ensino deverá aparecer com mais ênfase, ao longo do processo de pesquisa, mas
neste momento não conseguimos nos desvincular do que ocorre na unidade escolar.
Acreditamos que o ensino de Geografia tem uma grande importância no contexto de
unificar as pessoas e fazer com a integralização dos países sejam paziguados.
Para Brasil (2004) a escola pública tem como compromisso oportunizar condições
para sua clientela construir conhecimentos, atitudes e valores, contribuindo na
formação de cidadãos críticos, éticos e participativos nos contextos que
integram. As escolas que hoje compõe esta modalidade, são necessariamente
importantes e estão geralmente instaladas em áreas periféricas da cidade de Boa
vista, são vistas por parte da sociedade como um lugar no qual pessoas tenha a
oportunidade de completar os estudos que por algum motivo no passo foi
estagnado. A ideia de manter a modalidade hoje ainda é bastante discutida, já
que para muitos o analfabetismo não existe no Brasil. Porém a diversos fatores
que, mencionados neste trabalho mostra o quanto é importante hoje, está
modalidade de ensino para jovens e Adultos.
É preciso avaliar os parâmetros que de
certa forma vão contribuir positivamente no âmbito escolar da EJA, desde a
matérias didáticos quanto a processos de formação continuada para professores
que atuam nas diversas modalidades. Do
ponto de vista do desenvolvimento pessoal e coletivo, os alunos em geral ainda
deixam a desejar, pelo fato de hoje a imigração ser vista com um problema para
as pessoas que estão recebendo refugiados hoje em Roraima, muitos dos problemas
sociais que já se encontravam visivelmente em Boa vista- RR hoje a imigração venezuelana
tem carregado em si o peso da desigualdade junto com problemas sócios
espaciais. Observando a comunidade que carrega em si as mais diversas culturas,
costumes, características vai aos poucos perdendo espaço. De maneira geral,
percebemos que a Geografia vem resistindo nas mãos de alguns professores que
sabem o quão importante é o debate acerca do mundo, que nos leva a perceber o
quanto a humanidade visualiza a si mesma de maneira vertical, generalizando a
violência sem ao menos ter a percepção de saber que vários fatores vão
influenciar para que o comportamento humano se propague desta forma. Para
tanto, percebemos a necessidade da ampliação de uma educação plural.
Tendo em vista que o governo do estado tem
nas mãos as condições para conduzir diversas políticas educacionais voltadas ao
imigrante que hoje frequenta as escolas públicas como discentes, acreditamos
que mais professores/as não só de Geografia precisam se pronunciar, e revelar
que tipo de educação produzem nestas escolas e sempre propor soluções, para o
investimento em projetos políticos pedagógicos e formação continuada para o
corpo docente em geral, pois quem mais sabe dos problemas e dificuldade hoje
enfrentados na escola é o professor e o aluno.
Referências
bibliográficas
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita.
Educação para a democracia. Lua Nova: Revista de cultura e política,
n. 38, p. 223-237, 1996.
FREIRE, P.
(1997). Pedagogia da autonomia: Saberes
necessários à pratica educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
BENEVIDES, Fernanda Borges Neto; VLACH,
Vânia Rúbia Farias. O Ensino de Geografia em classes de EJA: um
diagnóstico. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina. São
Paulo, p. 1.773-1.786, 2005.
OLIVEIRA, Sebastião Monteiro et al. A educação de jovens e
adultos em tempos de incertezas: debates contemporâneos. Soul Editora,
2019.
SPINDEL, Cheywa R. Homens e
máquinas na transição de uma economia cafeeira: formação e uso da força de
trabalho no Estado de São Paulo. Paz e Terra, 1980.
UIS.Stat. UNESCO Institute of Statistics.
<http://data.uis.unesco.org/>. Acesso em: 15 de maio. 2019.
UNESCO, MEC. Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos-V
CONFINTEA. Brasília: MEC, 2004.
FREIRE, P.
(1997). Pedagogia da autonomia: Saberes
necessários à pratica educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
[i]
Artículo 103. Toda persona tiene derecho a una
educación integral, de calidad, permanente, en igualdad de condiciones y
oportunidades, sin más limitaciones que las derivadas de sus aptitudes,
vocación y aspiraciones. La educación es obligatoria en todos sus niveles,
desde el maternal hasta el nivel medio diversificado. La impartida en las
instituciones del Estado es gratuita hasta el pregrado universitario. A tal
fin, el Estado realizará una inversión prioritaria, de conformidad con las
recomendaciones de la Organización de las Naciones Unidas. El Estado creará y
sostendrá instituciones y servicios suficientemente dotados para asegurar el
acceso, permanencia y culminación en el sistema educativo. La ley garantizará
igual atención a las personas con necesidades especiales o con discapacidad y a
quienes se encuentren privados de su libertad o carezcan de condiciones básicas
para su incorporación y permanencia en el sistema educativo.” (CONSTITUCIÓN DE
LA REPÚBLICA BOLIVARIANA DE VENEZUELA, 1999)
Eu primeiro lugar, gostaria de parabenizá- los pelo lindo Relato de Experiências! Gostaria apenas de tirar duas dúvidas: 1. Na introdução vocês alegam que utilizaram como metodologia "construção de diários reflexivos" - gostaria de entender melhor esta metodologia e os autores que retratam sobre ela; 2. Na conclusão vocês se reportam ao " peso das desigualdades sociais com os problemas sócios-espaciais" - aqui me parece que vocês estão se referindo ao pensamento do Geógrafo David Harvey, mas não identifiquei este autor no desenvolvimento do texto. Gostaria de entender melhor que atores vocês se apoiaram para embasar esta importante concepção. Novamente, parabenizo o rico trabalho que me deixou emocionada! Trabalhar com EJA já é um desafio, imagine com EJA para Refugiados!
ResponderExcluirNívia Barreto dos Anjos
Olá! Nivia Barreto dos Anjos. Agradeço sua leitura detalhada e perguntas. Os diários reflexivos foram construídos conforme as aulas de Geografia eram realizadas, eles foram feitos por mim. A participação dos alunos, a interação com as aulas foi um dos fatores que contribuíram para que este diário fosse colocado por escrito e somar para que nossas reflexões neste trabalho fossem externadas, ele foi feito com base nas propostas de ensino da professora e os interesses dos alunos. Mas tenho conhecimento sobre esta metodologia que você menciona, porém não fizemos uso cientifico dela. Apesar da Professora ter externado suas antigas práticas pedagógicas quando não havia imigrantes oriundos da Venezuela em suas aulas, e com o contexto migratório ascendentes, as aulas foram totalmente modificadas, criando um espaço inclusivo e democrático em sala de aula. Certamente nossas indagações se assimilam com os pensamentos de David Harvey e podem se fazer presente nesta obra, forma espacial justiça social, atributos geográficos que nos possibilitam visualizar todo este contexto excludente. Para firmamos esta concepção não consultamos autores para assegurar essa afirmação, mas sim nossas reflexões acerca da ciência geográfica analisando como um todo, toda as ações que envolve as políticas públicas educacionais e para refugiados. Obrigado pela indicação e leitura deste trabalho, fiz as anotações, se houver oportunidade de organizar o trabalho, certamente adicionarei as suas avaliações, elas foram de grande valor. Se quiser conversar mais sobre este trabalho, fique à vontade por aqui, ou e-mail. Forte abraço de Roraima!
ExcluirO trabalho de vcs é muito lindo e depois destas explicações ficou mais rico ainda. Grata!
ExcluirParabéns pelo trabalho! Muito interessante e instigante.. Realmente, é uma realidade difícil a dos refugiados e migrantes, que enfrentam inúmeros desafios, inclusive na escola, como mencionado no relato do/a professor/a. Gostaria de saber se há perspectivas de se fazer uma escuta aos próprios venezuelanos, investigando essa realidade a partir dos seus olhares e percepções? Abraços, Eliane Silva de Queiroz
ResponderExcluirOlá, Eliane Silva de Queiroz. Obrigado pela leitura e avaliação deste relato. Sim é possível, e esse espaço de dialogo com os imigrantes ainda está em processo. infelizmente por conta da pandemia os encontros não são permitidos. Mas logo divulgaremos! se quiser conversar mais sobre deixo meu e-mail á disposição.
ExcluirParabéns pelo trabalho, não tenho dúvidas, é sempre bom ler relatos de colegas da geografia, aprendo com outras realidades! Muito bom, só parabenizar!
ResponderExcluirJerfeson Alves da Costa
Olá, Jerfeson Alves da Costa. Agradeço sua leitura e avaliação deste relato.
ExcluirPrezados, parabenizo pelo desenvolvimento do trabalho! Relato muito importante e que fortalece nossa luta em busca de maior visibilidade, espaço e oportunidades para estes sujeitos!
ResponderExcluirConsiderando a alta evasão, por motivos diversos, e ainda somados a todo o sofrimento enfrentado por estes imigrantes, em especial os Venezuelanos, o resgate, oportunidade e o retorno ao ambiente escolar é uma ferramenta educativa que possibilita a emancipação e apropriação de suas próprias histórias! Resgate e introdução desses sujeitos numa nova sociedade, uma nova cidade, uma nova casa!
No relato, há uma fala que me chama atenção "a necessidade de formação para os Professores". Este ponto é crucial para que saibamos usar todas as ferramentas disponíveis, auxiliando no processo educativo/formativo e emancipatório desses sujeitos. Precisamos lançar mão de conhecimentos que abracem e os envolvam de tal forma que possamos alcançar a mínima evasão e cada vez mais, a permanência destes no ambiente escolar, dando oportunidades de conquistar mercado de trabalho e engajamento social.
Para vocês, para além da acolhida pelos estudantes brasileiros, formação dos Professores, políticas públicas que garantam a possibilidade de retorno á Escola, o que mais pode ser feito para diminuir a evasão destes estudantes?!
Adrielle Souza Leão Macêdo
Olá Adrielle Souza Leão Macêdo, agradeço pela leitura e análise deste relato. Eu também acredito que "o retorno ao ambiente escolar é uma ferramenta educativa que possibilita a emancipação e apropriação de suas próprias histórias! Resgate e introdução desses sujeitos numa nova sociedade, uma nova cidade, uma nova casa!" é por conta disso, que as práticas pedagogias da professora tinha um cunho inclusivo, de modo com que alunos brasileiros possam estagnar as práticas xenofóbicas sobre imigrantes, sobretudo os venezuelanos, não generalizando, essa luta para um ambiente inclusivo em vários âmbitos em Roraima deve ser feito efetivamente.
ExcluirSobre sua pergunta, oque mais pode ser feito é a reformulação das politicas publicas dos países que de modo excludente, marginalizam a sua população mais carente, contribuindo para o fenômeno migratório. A escola tem esse papel, o estado tem esse papel, todos tem esse papel. Apesar de ser um trabalho continuo, as práticas inclusivas feito em conjunto em um país, ou estado da federação contribuem para que índices altíssimos de evasão possam desaparecer das estatísticas.
agradeço sua contribuição! forte abraço! Fica disponível meu e-mail.