1
INTRODUÇÃO
O cotidiano escolar
constitui-se como espaço/tempo dinâmico e problematizador. As relações que se
estabelecem num ambiente escolar cuja convivência é prolongada, como nos cursos
integrados, com ritmos distintos de interação, podem favorecer o fortalecimento
do senso de pertencimento e engajamento, e também gerar conflitos,
insatisfações, descumprimento de regras e normas. Nesse esteio, decisões coletivas são
alternativas capazes de reposicionar esses conflitos e (re)organizar as
relações.
Recentemente, em um
encontro pedagógico on line, no qual
gestores, docentes e técnicos administrativos discutiam a Minuta de revisão da
Organização Didática da Educação Profissional Técnica e Tecnológica (EPTNM), emergiu uma
questão que foi polemizada sobre a inclusão de representação estudantil no
Conselho de Curso. Dentre os argumentos contrários à participação discente,
prevalecia a defesa do componente ético das decisões, a capacidade civil dos(as)
estudantes menores de 18 anos, a liberdade docente em tomar decisões que dizem
respeito aos estudantes.
Em contrapartida,
aqueles que se posicionavam favoráveis, defendiam a importância da
representatividade discente em uma esfera colegiada, tendo em vista a
contribuição à formação política e o exercício da cidadania no contexto
escolar. Essas questões fomentaram reflexões acerca da atuação do(a) estudante
nas esferas consultivas e deliberativas. A partir disso, emergiram os seguintes
questionamentos: se o(a) estudante, independentemente de sua idade, pode votar
e escolher diretor e reitor, por que não deveria participar de conselhos de curso?
Quais percepções os(as) docentes e discentes constroem sobre a participação dos(as)
discentes nos conselhos escolares?
Diante da complexidade
da questão e dos diferentes posicionamentos evidenciados, elaboramos o presente
relato de experiência instigados em compreender como se constitui a
participação estudantil em órgãos colegiados no IF Baiano Campus Bom
Jesus da Lapa. No âmbito legal, os conselhos são espaços processuais de
melhoramento contínuo das práticas pedagógicas institucionais, ancorados na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) e disciplinados pela
Organização Didática dos Cursos de Nível Médio (EPTNM).
Colaboraram com este
estudo 10 (dez) discentes que já participaram de conselhos de classe, na
condição de representantes de turma, e 5 (cinco) docentes de áreas técnicas e
base nacional comum, com mais de 2 (dois) anos de experiência na Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico (EBTT), os quais, também, participaram de Conselho de
Classe Diagnóstico e Prognóstico no Campus Bom Jesus da Lapa, no período de
2016 a 2019.
O objetivo geral do
estudo foi investigar como se constitui a participação estudantil nos conselhos
de classe dos cursos da EPTNM no contexto institucional, a partir da
perspectiva dos(as) discentes e docentes. Como objetivos específicos buscamos
compreender em que medida o conselho de classe se constitui como um elemento
processual do fazer educacional; analisar as percepções dos(as) discentes e
docentes acerca da participação estudantil nas esferas colegiadas; refletir
sobre a formação ética e política da participação estudantil em conselhos e
seus reflexos na construção da autonomia e visão crítica.
2 DESENVOLVIMENTO
Este
relato envolve uma investigação de abordagem qualitativa, tendo como estratégia
o estudo de caso, e instrumentos de coleta de informações o questionário
eletrônico, disponibilizado através da plataforma Google Forms, e a análise documental em dispositivos normativos
legais e relatórios de atividades dos conselhos de classe desenvolvidos no
período de 2016 a 2019.
A
abordagem qualitativa definida por Ludke e André (1986) possibilita captar
elementos implícitos nas ações e relações estabelecidas e vividas pelos
sujeitos, para além de aspectos numéricos. Neste esteio, Godoy (1995, p. 63)
argumenta que “quando nossa preocupação for a compreensão da teia de relações
sociais e culturais que se estabelecem no interior de organizações, o trabalho
qualitativo pode oferecer interessantes e relevantes dados”. Em relação à estratégia
do estudo de caso, importa mencionar os pressupostos de Lüdke e André (1986) ao
evidenciarem que o estudo de caso busca realizar diagnósticos extremamente
detalhados sobre um determinado problema social, possibilitando uma análise
minuciosa do contexto particular e dos sujeitos envolvidos na situação, que
possuem limites bem delineados. Desse modo, busca-se a ‘interpretação em
contexto’.
Os
conselhos de classe, enquanto instâncias promotoras da gestão democrática no
contexto escolar, ganham evidência com o advento da Lei 9.396/96 (LDB),
passando a estruturar-se no prisma da avaliação não apenas de questões de ordem
administrativas, como também dos aspectos que envolvem o planejamento e as
práticas pedagógicas institucionais.
Do
ponto de vista legal, os conselhos encontram respaldo na Constituição de 1988
que inaugura a gestão democrática na educação, ao estabelecer, em seu artigo
206, o princípio da gestão democrática do ensino público. Amparam-se, também,
no Art. 14 da LDB que desdobra esse princípio constitucional e diz que os sistemas de ensino definirão formas de promover a gestão democrática do
ensino público na educação básica, com a participação de profissionais da
educação na elaboração do Projeto Pedagógico, da escola e da comunidade escolar
em conselhos escolares ou equivalentes, dentre outros.
No
âmbito do IF Baiano, o Conselho de Classe está regulamentado pela Organização
Didática dos cursos de nível médio, Art.140, sendo caracterizado como [...]
“uma instância coletiva e deliberativa de avaliação, de análise e de
diagnóstico, que tem como finalidade tomar decisões objetivando a melhoria dos
processos de ensino e de aprendizagem, a promoção da qualidade e a atualização
do processo pedagógico” [...]. O mesmo documento denomina os conselhos de classe
por diagnóstico, prognóstico e final. Em ambos os formatos, as finalidades
estão associadas à avaliação colegiada do processo educativo, visto que são é
formado por docentes, gestores(as) do ensino, equipe multiprofissional
(técnicos administrativos em educação) e representantes de turmas.
Em linhas gerais, os
conselhos podem atribuir novos sentidos à participação dos sujeitos nos
processos de planejamento institucional e contribuir para formação política dos
estudantes, por possibilitar a vivência concreta de um espaço de decisões
colegiada. Libâneo (2006,
p.328) enfatiza que a participação se revela como o principal meio para
assegurar a gestão democrática e possibilitar o envolvimento de todos os
integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da
instituição. Vislumbra-se, com isso, o estabelecimento de novas
relações, inaugurando uma práxis educacional que exterioriza os pressupostos da
gestão democrática, na qual a participação não ocorre de forma tutelada, mas
primando pela autonomia dos sujeitos em propor e participar concretamente da
efetivação da mudança.
No
entanto, Bordignon (2004) destaca que nosso país tem uma cultura política
marcada pelo poder patrimonialista. Para o autor, essa herança cultural
interfere e dificulta a implementação da gestão democrática na escola pública.
“Enquanto não superarmos a cultura patrimonialista, que gera atitudes de “donos
do poder”, ou do saber, não florescerá nas escolas o habitat adequado para o
efetivo exercício da gestão democrática, fundamento da cidadania” (BORDIGNON,
2004, p.60).
Quanto
à necessidade de ocupação dos espaços de representatividade pelos jovens, Maia
et all (2011, p. 170) destaca que esse “problema estaria relacionado a um
pretenso vazio na formação política dos jovens”. O autor alerta para o fato de que “apesar da
população de jovens entre 15 e 25 anos constituir cerca de 20% da população,
estes se encontram num lugar à margem dos processos decisórios, no que diz
respeito a políticas públicas elaboradas pelo governo brasileiro” [...]. No
entanto, a juventude tem como características a atração pelo novo, a capacidade
de pensar as condições de sua existência, elaborar questionamentos, e
reconstruir sua própria realidade, e isso se dá por meio de suas redes de
relações e de participação (Idem, p. 173).
Assim,
por meio deste relato foi possível conhecer percepções de estudantes e docentes
sobre a implementação dos conselhos de classe numa instituição federal de
educação profissional de nível médio, com dez anos de atuação no Território de
Identidade Velho Chico, indicando aspectos que fortalecem ou enfraquecem a
gestão democrática no ensino público.
2.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os registros documentais (relatórios e
formulários) ajudaram a caracterizar a forma de participação dos(as) estudantes
nos conselhos diagnósticos e prognósticos. De acordo com os registros, a
participação se inicia
com o processo de mobilização das turmas na construção do diagnóstico prévio
considerando aspectos ligados à prática docente, infraestrutura, relações
interpessoais, assiduidade, dificuldades de aprendizagem, políticas de apoio ao
ensino, dentre outros. Nesse contexto, as lideranças são incumbidas de
produzirem, com os seus pares, os relatórios que serão apresentados e debatidos
no conselho diagnóstico e prognóstico e tem como finalidade avaliar ações
educacionais e indicar alternativas para a melhoria do processo de ensino e
aprendizagens.
Tendo por base essa dinâmica
institucional e
considerando a natureza qualitativa, o estudo contou com a participação de 15
(quinze) sujeitos, 10 (dez) estudantes líderes de turmas e 05 (cinco)
professores(as). Das análises das informações, foram elencados 04 (quatro)
eixos centrais que traduzem as concepções dos sujeitos sobre o conselho de
classe diagnóstico e prognóstico: Eixo 1
- Objetivo do conselho de classe diagnóstico; Eixo 2 - Avaliação da
participação estudantil nesses conselhos de classe; Eixo 3 - Contribuições do
conselho para a melhoria da instituição; Eixo 4 - relevância do conselho de
classe para a formação política e posicionamento crítico discente no contexto
escolar.
Vale
ressaltar que em respeito aos princípios éticos que regem o rigor científico,
os nomes dos sujeitos que compõem este relato foram preservados, e aqui são
identificados com nomes de pessoas que marcaram a história da educação, cultura
e arte no mundo.
As
análises realizadas no Eixo I, evidenciaram as concepções dos sujeitos quanto
ao objetivo do conselho diagnóstico e prognóstico. De modo geral, os (as)
estudantes percebem o conselho como uma oportunidade de escuta, de autoavaliação e, ainda, como mecanismo de
compreensão das diferentes realidades. Para os(as) discentes, o conselho se
constitui como um processo formativo que extrapola a sala de aula, favorecendo
a possibilidade do diálogo com os diferentes agentes que integram a comunidade
escolar.
Nesse sentido, a estudante Elis acredita que “O conselho de classe diagnóstico tem como
objetivo promover uma maior interação dos discentes com todo corpo de formação
do Instituto, visto que. no conselho são realizadas pautas de diversos
contextos como funcionamento, gestão, aprendizagem e convívio social.”
Ainda sobre este eixo, os (as) discentes evidenciaram
percepções do conselho enquanto instância e lugar que faz emergir conflitos
advindos das relações interpessoais e institucionais. A estudante Hannah
acredita que o objetivo principal do conselho é “[..] melhorar a relação servidor estudante, e diminuir atritos que possam
interferir no papel de ambos dentro da instituição.”
Os (as) docentes também compartilham das concepções dos
(as) discentes, ao conceberem o conselho como espaço de escuta e avaliação
participativa do processo educacional. Além desses aspectos, pontuaram que um
dos objetivos do conselho é identificar as fragilidades e potencialidades no
processo pedagógico, para uma intervenção a partir das realidades evidenciadas.
A partir das análises, é possível afirmar que os sujeitos
compreendem que os Conselhos de Classe se constituem como lugares de
"debate e negociações em torno das necessidades e prioridades da escola e
como um canal de democratização da gestão escolar" (AGUIAR, 2008, p.141).
Em relação ao Eixo II, que trata da avaliação da
participação estudantil nos conselhos de classe diagnóstico e prognóstico, as
análises realizadas revelaram uma polarização nas percepções dos (as) discentes,
visto que enquanto os(as) discentes Cecília, Maria, Milton, Maya, Luís, Elis,
Tarsila e Lélia avaliam a participação estudantil nos conselhos como um
processo dialógico e positivo, os estudantes Anísio e Hannah acreditam que “falta poder aos estudantes”.
Na concepção de Anísio e Hannah, a palavra é oportunizada
aos estudantes, entretanto, esse lugar de fala é fragilizado pelas relações de
poder que permeiam o espaço escolar. Nas
palavras de Hannah: “[...] o estudante
tem um momento de fala bastante justo, no entanto, muitas vezes essa fala acaba
sendo mais contida que o necessário, com certo receio, uma vez que um professor
pode não gostar muito das observações, e levar para o lado pessoal. Quando isso
acontece, ao invés de melhorar, a relação tende a piorar. Então, essa liberdade
de fala existe, mas as vezes, nem tudo que precisa ser pontuado, é pontuado.
Para Dalben, (2004, p.
92) nas instituições escolares ainda prevalece uma visão limitada sobre a
participação estudantil nos órgãos colegiados, pois a “organização escolar sempre se pautou pelo atendimento às necessidades
dos segmentos que participam dela como gestores, professores, funcionários e
pais”, e os(as) estudantes poucas vezes se sentem ouvidos ou integram
órgãos colegiados com direito a voto. A autora destaca ainda que [...] “os estudantes sempre foram vistos como
pessoas atendidas na escola e por isso a ela deviam submissão, obediência e
disciplina”.
Na análise depreendida, a insatisfação de parte do
segmento estudantil traduz-se na ideia de participação limitada, que se
aproxima das concepções de Dalben (2004) e Bordignon (2004).
Na perspectiva dos(as) docentes, em relação ao que é
proposto no eixo II, nota-se uma avaliação positiva quanto à participação
estudantil nos conselhos de classe diagnóstico e prognóstico. Para Paulo, esse
processo contribui para a “reavaliação da atividade docente”. Êda, por sua vez,
ratifica que essa participação permite que os(as) estudantes avaliem todos os
fatores que envolvem o seu processo de aprendizagem, bem como, possibilita a
sua autoavaliação. Já o docente Rui compreende que a participação estudantil no
conselho contribui “como ferramenta para avaliação do processo de
aprendizagem, relação professor/aluno, cumprimento da proposta curricular e da
gestão escolar”.
Assim como os docentes Paulo e Rui, a Magda acredita que a
atuação estudantil coopera para uma gestão participativa, ela “considera de extrema importância [...] o
envolvimento dos estudantes nesse processo [pois] fortalece a gestão
participativa da instituição, permite o exercício crítico-participativo [...] e
oportuniza a tomada decisões coletivas”.
Quanto ao Eixo III, que
trata das contribuições do conselho para a melhoria da instituição, a maioria
dos (as) discentes afirmou que foram efetivadas ações em relação à didática,
metodologia de ensino, comunicação e relações interpessoais. A estudante Maria
destacou que “[...] após o conselho, foi
possível notar que alguns dos docentes buscaram meios de evoluir, tanto na
metodologia de ensino como no convívio com os alunos. Os alunos também buscaram
formas de melhorar. Isso mostra que o diálogo é importante no desenvolvimento
das relações, inclusive as acadêmicas”.
Houve aproximação entre
os sentidos atribuídos pelos(as) discentes e docentes. Para estes (as), as
falas dos líderes representam um coletivo “[...]
quando em conselho, os representantes
falam, falam em nome do coletivo, logo as questões apontadas ganham maior
credibilidade pois não se trata de uma "queixa" individualizada” (Docente Magda). Na
mesma perspectiva, Êda enfatiza que [...] “os
discentes ao ouvirem os posicionamentos de vários professores sobre a turma
também colaboram para melhoria das relações interpessoais, ou da organização da
sala, ou dedicação aos estudos, etc”.
Além dos aspectos
pedagógicos, os (as) estudantes elencaram melhorias na infraestrutura e
serviços, como revela o estudante Milton: “[...] diversos reparos foram feitos principalmente no ar condicionado, houve um aumento significativo de qualidade
da alimentação”.
Foi unânime entre
os(as) docentes que as demandas apresentadas no conselho contribuem para a
melhoria institucional. Contudo, para alguns (algumas) estudantes, as demandas
apresentadas no conselho não são atendidas a contento. Para o (a) estudante Anísio “[...] grande parte do que solicitamos é negado ou
não é ouvido”. Na mesma perspectiva, a discente Cecília, destaca que as
mudanças acontecem “[...] apesar de
muitas coisas continuarem iguais”.
Nessa perspectiva, Ghon
(2011, p. 333) destaca que o ato de participar tem um caráter formativo,
“quando há negociações, diálogos ou confrontos”. Assinala ainda que “[...] o contexto
escolar é um importante espaço para participação na educação. A participação na
escola gera aprendizado político para a participação na sociedade em geral”
(idem, p. 347). Dessa forma, é possível inferir que existe um hiato entre as percepções
dos(as) discentes e docentes em relação às contribuições dos conselhos para
gestão escola.
Numa outra perspectiva,
os (as) estudantes revelaram que a participação em atividade dessa natureza promove
a aproximação da categoria aos processos administrativos, por meio do
compartilhamento de decisões e opiniões entre servidores, gestores, docentes e
estudantes. A estudante Elis destaca que [...] “foram explicados os motivos de não ser possível no momento a melhoria
de outras demandas, o que gera uma melhor compreensão sobre os fatores
envolvidos”. E o discente Luís destaca a importância do conselho para
eleger prioridades ao afirmar que o Conselho de Classe Diagnóstico “[...] visa atender as necessidades mais importantes
do Campus, e as que terão mais benefícios”.
Nesse sentido, a
participação estudantil no IF Baiano, Campus
Bom Jesus da Lapa se configura como processo em construção, requerendo engajamento dos envolvidos, de modo que haja a
garantia da efetiva participação de todos os segmentos que formam a comunidade
escolar, não apenas nos momentos de avaliação, mas também nas decisões. De modo
mais amplo isso está relacionado à demanda social, visto que “é preciso que
sejam respeitados os direitos de cidadania e que se aumentem progressivamente
os níveis de participação democrática da população” (GHON, 2011, p.347)”.
No eixo quatro,
analisamos se os participantes percebem o conselho de classe enquanto instância
de formação política. Essa questão está relacionada ao que Ghon (2011, p.347) atribui como aspecto
formativo dos conselhos, posto que, para ela, a “participação na escola gera
aprendizado político para a participação na sociedade em geral” e “são inúmeras
as novas práticas sociais expressas em novos formatos institucionais da
participação, tais como conselhos, fóruns e parcerias.” (idem, p.355).
Todos os (as)
estudantes perceberam que o conselho é um espaço que contribui para a formação
política, ressaltando que nele o (a) estudante tem a “[...] chance de apresentar seu posicionamento e ao
mesmo tempo escutar os demais.”(Estudante Maria); “Essas atividades constituem um elemento fundamental da democracia que é
a capacidade de decidir sobre o meio em que se encontra e ver as decisões
transformarem-se em ações” (Estudante Milton).
Numa análise mais
ampla, a estudante Hannah destaca que “[...] a liderança de sala como um todo auxilia na formação política, afinal,
para ocupar esse cargo é necessário tomar decisões importantes em benefício de
uma maioria. O conselho aguça o nosso senso crítico sobre a instituição e nos
faz tomar conhecimento de muitos dos nossos direitos”.
Maia et all (2011, p. 184) destaca que a participação
estudantil na discussão de questões de seu mundo, com proposições de sugestões
e mudanças é uma ato político e destaca
que “podem fazer enorme diferença na formação integral de uma pessoa,
sobretudo, jovens universitários, ávidos em encontrar seu lugar, em meio a
dilemas identitários característicos dessa idade da vida”.
Os(as) docentes também
reconhecem o conselho como instância de formação política. Para o professor
Paulo, o conselho “[...] é um espaço
aberto para o diálogo entre diferentes categorias, fortalece o exercício da
democracia e a cidadania”. Numa percepção aproximada, a professora Magda
destaca que, enquanto instância de formação política, o conselho se constitui
como “a oportunidade de ocupar espaços
legítimos de empoderamento, defesa, luta e representatividade que se assemelha
à vida para além do espaço escolar”. Essa percepção da escola como espaço
de vivencia cidadã e político, que contribui para na formação de sujeitos
críticos e participativos se aproxima ao que é debatido por Maia et all (2011).
O estudo revelou que os
segmentos docente e discente reconhecem os conselhos de classe como instância
de formação política, importante para o exercício democrático e de cidadania,
sendo oportunizado o desenvolvimento da criticidade e da aprendizagem coletiva.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa possibilitou
a captação dos sentidos que os sujeitos educativos atribuem à participação
discente nos conselhos escolares, evidenciando o papel político e formativo
destes colegiados e relevância para o aprimoramento dos processos pedagógicos e
qualidade do ensino.
Em consonância com os
princípios gerais que norteiam a gestão democrática, os conselhos são espaços
dialógicos e decisórios, capazes de concretizar os anseios da comunidade
escolar e sua participação efetiva na mudança. A participação estudantil
contribui para a melhoria dos processos e ações dentro e fora da escola, uma
vez que, ao se apresentar e discutir coletivamente as demandas, oportunizam-se
diferentes aprendizagens advindas do compartilhamento de percepções sobre uma
realidade.
Na educação profissional, científica e
tecnológica, as premissas legais são reforçadas, por meio de normativas
internas e de práticas que favorecem a efetiva atuação dos conselhos. Através
do estudo, foi possível vislumbrar os avanços promovidos no âmbito do IF
Baiano, bem como os desafios a serem superados no sentido de promover o
equilíbrio de forças entre os segmentos representados na tomada de decisão e a
necessidade de instituir canais permanentes para monitoramento das demandas
levantadas nos conselhos.
REFERÊNCIAS
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2020.
Que trabalho rico! Parabéns! Gostaria de saber como vocês chegaram a esta amostra de 15 e também fiquei em dúvida em relação a esta divisão 10 estudantes e 5 professores.
ResponderExcluirNívia, muita grata pelo seu comentário. A nossa curiosidade nos mobilizou a olhar com estranhamento nosso cotidiano, e como nosso estudo de caso se deu na pesquisa qualitativa buscamos envolver olhares das categorias discente e docente. Os discentes são estudantes que atuaram como representantes de turmas nos períodos destacados. Como são três cursos integrados, o máximo de estudantes que conseguimos o contato foram os 10, considerando a disponibilidade dos mesmos em participar do estudo. Quanto aos docentes buscamos eleger áreas distintas de formação e atuação, e que tivessem participação em conselhos na condição de docente, ou de gestão, tanto como coordenação de curso quanto de cargo de direção. Como os cargos de gestão não afastam o docente da sala de aula, consideramos que esses olharem poderiam enriquecer nosso diálogo na perspectiva discente e docente gestor e não gestor.
ExcluirObrigada! Muito interessante!
ExcluirBoa noite! Gostaria de saber se, a partir dessa pesquisa, foi possível identificar algum tipo de problematização que pode indicar a necessidade de aprimoramento de algum aspecto do conselho de classe?
ResponderExcluirMoisés Morais
Moisés, que pergunta desafiadora! Sim, as análises indicam que na perspectiva de alguns estudantes existem aspectos da participação que podem ser ampliadas, como por exemplo, que as demandas apresentadas nos conselhos sejam consideradas em sua totalidade, e que sejam fortalecidos canais de comunicação, de modo que os estudantes se sintam partícipes do processo de avaliação e de tomadas de decisões que interferem diretamente em suas vidas. Creio que existe uma cultura escolar ainda muito forte e relações de poder que dificultam o fortalecimento dos órgãos colegiados, principalmente nos cursos integrados de nivel médio.
ExcluirObrigado, Grace!
ExcluirÉ como se os alunos apontassem a necessidade de uma paridade e equidade no que tange ao aspecto decisório.
ExcluirBoa dia Grace! Parabéns pelo trabalho realizado. De fato, fomentar a participação estudantil nos órgãos colegiados traz um ganho importantíssimo para a formação política dos estudantes, ao suscitarem debates, a partir das experiências vivenciadas por eles, das relações com os seus pares, com os docentes e com a e instituição como um todo. É um excelente exercício de escuta e da fala de forma democrática. E você fazem muito bem esse papel!
ResponderExcluirAqui no Campus Santa Inês, trabalhamos exatamente da mesma forma e percebemos o quanto essa estratégia contribui para formarmos cidadãos críticos e reflexivos.
Grace, as questões identificadas pelos estudantes no Conselho Diagnóstico no que trata das implicações diretas no processo de ensino-aprendizagem, quando não sanadas/ resolvidas, são retomadas no Conselho Prognóstico? Qual o papel da equipe pedagógica, frente a esta problemática?
Agradeço atenção.
Nelian Costa Nascimento
Bom Dia Nelian, que bom que nossa reflexão chegou até você e é uma forma de enriquecer nossas experiências. Quanto a sua pergunta após o conselho diagnóstico a equipe pedagógica cria diferentes estratégias de ação com demais setores da instituição: diálogo individualizados e coletivos com discentes, docentes e pais; proposição de encontros de formação continuada; encontros formativos com lideranças de turmas; organização de tempo de estudos e indicação de participação em nivelamento, monitoria de ensino e grupos de estudos; buscamos parcerias com Núcleos como NAPNE, NEABI, NAPSI, CAE e assistência Social. Esse trabalho articulado e em parceria tem apresentados bons resultados. O papel da equipe pedagógica é inicialmente desenvolver espaços de diálogos e criar estratégias de atuação, buscando o comprometimentos dos sujeitos envolvidos na transformação desejada. Nem sempre conseguimos sucesso, mas isso gera aprendizagem, e buscamos outras estratégias. Quanto aos conselhos prognósticos, buscamos aproximar os retornos nas turmas quanto as demandas apresentadas: os gestores dialogam diretamente com as turmas sobre as ações efetivadas e outras não atendidas. Contudo, esse processo ainda apresenta falhas, como apresentamos no corpo do trabalho.
ExcluirSenti-me contempladíssima com a sua resposta. De fato, desenvolvem um trabalho de excelência. Proporcionar o diálogo e a retroalimentação das questões apresentadas pelos sujeitos do processo é um grande diferencial na formação dos sujeitos, quando a educação que preconizamos é a educação libertadora. Novamente parabenizo a equipe pelo trabalho.
ResponderExcluirBoa noite!! Parabenizar pelo trabalho e afirmar que o conselho de classe na educação profissional é como um meio possível de se construir uma educação com qualidade social e permanente compromisso como o processo de ensino e aprendizagem e que tem impacto direto nos índices positivos da qualidade educacional brasileira. (Liz Leal Mota Capistrano)
ResponderExcluirCertamente, Liz. O conselho de classe reune em si importantes componentes formativos, que extrapolam o âmbito didático-pedagógico. Isso posto, consideramos que a cidadania se inicia na escola, com o envolvimento efetivo e integrado dos segmentos educativos. O artigo em comento mostrou-se um importante canal de percepção acerca das concepções dos atores.
ExcluirResposta acima de um dos autores, Junio Batista Custódio.
ExcluirParabéns! Investigação muito relevante! Os caminhos da pesquisa ficaram nítidos. A participação dos discentes no conselho de classe é fundamental para a efetivação da gestão democrática, mas é de fato um desafio que precisa ser superado.
ResponderExcluirVocês apontam que a participação no conselho se inicia com registros e construção de relatórios pelos alunos sobre diferentes dimensões. Esse instrumento é padronizado? Vocês poderiam descrever melhor como é organizado esse instrumento disparador?
Débora Gomes Gonçalves
Prezada Débora, agradecemos pelo seu interesse e comentário. Não existe um instrumento institucional padrão. Nossa equipe criou alguns instrumentos para nos ajudar na condução dos conselhos a nível de Campus. A criação de um instrumento é objeto de nossa ação-reflexão-ação e na nossa última versão de conselho de classe diagnóstica (2019), organizamos eixos avaliativos. Esse instrumento tinha como foco facilitar apresentação das demandas e proporcionar o diálogo coletivo, de modo que não recaísse apenas ao líder a tarefa de organizar demandas avaliativas. Alguns dos eixos proposto pela equipe pedagógica envolveram: estrutura da escola; serviços prestados; avaliação do perfil da turma; avaliação da aprendizagem e do processo pedagógico; avaliação do curso. Em todos os itens solicitamos sugestões de melhorias. Assim como os estudantes os docentes também são orientados a organizar registros que possam auxiliar na condução dos conselhos, superando participações apenas espontaneístas. A partir dessas formas de organização, percebemos que o nível de interação e de discussão foi ampliando qualitativamente.
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